Folha de S.Paulo

BC abre caminho para cortar juros mesmo sem avanço no ajuste fiscal

Relatório do Banco Central reforça previsões de que a taxa começará a ser reduzida neste ano

- MAELI PRADO

Instituiçã­o reitera promessa de levar a inflação para 4,5% até 2017, mas sugere que pode esperar até 2018

Após atrelar o corte da taxa básica de juros ao andamento das reformas na área fiscal e à queda da inflação, o Banco Central mudou o discurso para indicar que os juros vão cair ainda neste ano, mesmo que os progressos nessas áreas sejam pequenos.

Analistas do mercado financeiro esperam um primeiro corte na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC de 19 de outubro.

Nesta terça (27), a instituiçã­o divulgou um dos seus documentos mais importante­s, o Relatório Trimestral de Inflação, em que analisa o cenário econômico, o comportame­nto da inflação e suas projeções para os próximos anos.

Segundo o BC, a inflação pode chegar a 4,4% no próximo ano, ligeiramen­te abaixo do centro da meta oficial, de 4,5%, se a taxa básica de juros ficar nos atuais 14,25% ao ano. Nesse cenário, a inflação cairia para 3,8% em 2018.

O BC prevê que, se os juros baixarem para 11% até o fim de 2017, como espera o merca- do, e o dólar não passar de R$ 3,50, dá para chegar a uma inflação abaixo de 5% no próximo ano e de 4,5% no seguinte. Situação que o relatório do BC indicou como aceitável.

Apesar de ter reiterado sua promessa de levar a inflação dos atuais 9% para 4,5% até o fim de 2017, o Banco Central diz que precisa olhar também para períodos mais longos, um sinal de que poderá permitir uma inflação um pouco mais alta no próximo ano.

Em seus últimos comunicado­s, o BC manteve um discurso mais racional sobre como tomaria decisões sobre juros, olhando a inflação e o andamento das reformas fiscais. Agora, diz que toma suas decisões “com base em avaliações subjetivas”, embora “calcadas em evidências sólidas”.

A posição do BC contribuiu para derrubar as taxas no mercado de juros futuros. Contratos de janeiro de 2018, por exemplo, fecharam com taxa equivalent­e a 12,22%, ante 12,15% no dia anterior.

Para Luiz Eduardo Portella, sócio da corretora Modal Asset, as projeções do BC indicam que a redução dos juros começará em outubro. “O BC deixou claro que está olhando os próximos dois anos”, afirmou. Ele acha que a taxa básica cairá 0,50 ponto percentual em outubro.

Julio Hegedus, economista da consultori­a Lopes Filho, considerou as projeções do BC ambiciosas. “Acho que ele teria que se manter cauteloso. As condições para inflação mais baixa estão surgindo, mas não dá para contar como tendência confirmada.”

O BC diz que três elementos permitiria­m a queda dos juros: o fim do choque de alimentos que fez a inflação subir neste ano, a queda de preços que reagem mais rapidament­e a variações dos juros e a aprovação das medidas de ajuste fiscal propostas pelo presidente Michel Temer.

Os preços dos alimentos, na avaliação do Banco Central, já mostram alguns sinais de arrefecime­nto no atacado. ENTENDIMEN­TO Quanto ao terceiro fator, Carlos Viana de Carvalho, diretor de Política Econômica do BC, disse que há sinais positivos, como o fato de a proposta do teto de gastos ter sido encaminhad­a ao Congresso. Ele também vê um entendimen­to de que existe a necessidad­e de um ajuste fiscal.

Para 2016, a expectativ­a do BC é que o ano termine com inflação de 7,3%. A autoridade monetária projeta ainda queda de 3,3% no PIB (Produto Interno Bruto) neste ano e cresciment­o de 1,3% no próximo. A proposta de Orçamento encaminhad­a pelo governo ao Congresso prevê cresciment­o de 1,6% em 2017.

 ?? Alan Marques - 16.mai.2016/Folhapress ?? O presidente do BC, Ilan Goldfajn, durante cerimônia
Alan Marques - 16.mai.2016/Folhapress O presidente do BC, Ilan Goldfajn, durante cerimônia

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