Folha de S.Paulo

Para economista­s, ajuste leva a queda duradoura de juros

- MARIANA CARNEIRO

Inflação, segundo Boletim Focus Centro da meta, segundo BC

Dois ex-dirigentes do Banco Central disseram nesta terça-feira (27) que um ajuste nas contas do governo poderá gerar nos próximos anos uma queda permanente na taxa de juros, com redução do custo financeiro para famílias e empresas e valorizaçã­o de ativos.

Gustavo Franco, presidente do BC de 1997 a 1999 e hoje sócio da gestora de investimen­tos Rio Bravo, acha que a taxa básica de juros (hoje 14,25% ao ano) poderia chegar perto de 6% em dez anos.

Os efeitos positivos sobre a economia poderiam vir antes. Ele cita como exemplo o avanço no valor de mercado das empresas listadas na Bolsa depois que o Plano Real acabou com a hiperinfla­ção.

“Outra rodada de valorizaçã­o pode acontecer se a taxa de juros atingir um nível mais próximo de 4%”, afirmou Franco, durante debate promovido pelo Instituto Millenium, centro de estudos que difunde ideias liberais. “Foi desse jeito que países da periferia da Europa, como Portugal e Espanha, ficaram ricos.”

Eduardo Loyo, que foi diretor do BC entre 2003 e 2005, disse que o ajuste fiscal teria como bônus a entrega de taxas de juros baixas de maneira permanente, como o país almeja há anos sem sucesso.

“Ainda que o temor do desastre seja um incentivo poderoso, não nos custa levar em conta que o sucesso no ajuste pode trazer um bônus positivo na forma de algo que nós atavicamen­te perseguimo­s e nunca conseguimo­s alcançar, que é normalizar o patamar da taxa de juros”, disse Loyo, hoje economista­chefe do banco BTG Pactual.

Loyo reconhece a dificuldad­e para fazer o ajuste, porque ele tende a contrair uma economia que está começando a sair de uma profunda recessão. Esse efeito negativo seria, por outro lado, o propulsor da queda dos juros, afirmou.

“O Brasil ter custo de capital e de crédito barato e disponível para qualquer um poder empreender, realizar o que se quiser pode ser tão bom quanto foi o fim da inflação”, disse Gustavo Franco. “Este é um sonho assim como um dia foi o da estabiliza­ção.”

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