Folha de S.Paulo

Mais influente do mundo

Costura abalam a moda

- PEDRO DINIZ

O que meio mundo desejará vestir nos próximos anos dependerá de um jogo de xadrez cujas peças, desde terça-feira (27), em Paris, apontam para as novas direções da semana de desfiles mais influente do mundo.

Entre tendências, modelos de negócio e estratégia­s de vendas, o destino dos investimen­tos bilionário­s da indústria “fashion” será revelado até a próxima quarta-feira (5) nas apresentaç­ões que encerram a temporada do verão 2017 na capital francesa.

Sob o manto das aparências, porém, Paris está em xeque. Além do medo de atentados terrorista­s, que esvaziam lojas e restaurant­es, os “reis” desse jogo, os grupos de moda LVMH e Kering, nunca passaram por mudanças tão bruscas em suas “maisons”.

A Dior enfrentou, no ano passado, a demissão voluntária do estilista belga Raf Simons, responsáve­l por reacender a marca após a demissão, esta sem aviso prévio, de John Galliano. Em 2011, ele perdeu o emprego após vazamento de um vídeo no qual declarava odiar judeus.

Nesta temporada, a mesma Dior, do grupo LVMH, apresentar­á a primeira coleção comandada pela italiana Maria Grazia Chiuri. Um dos nomes mais quentes do “mundinho”, ela terminou o casamento criativo com Pierpaolo Piccioli na Valentino, marca que deve seus dias de glória recentes à dupla de designers.

Outros recomeços foram selados. Ontem ocorreu a estreia do estilista belga Anthony Vaccarello na Saint Laurent, etiqueta da Kering que cresceu exponencia­lmente —algo em torno de R$ 4 bilhões em lucros— desde que o francês Hedi Slimane, em 2013, botou o grunge na rua e no corpo das celebridad­es. O enlace com Slimane durou três anos, e os meandros do divórcio não foram divulgados.

Nos bastidores, comenta-se que Slimane prepara terreno para assumir, no próximo ano, a cadeira do alemão Karl Lagerfeld, 83, na Chanel. A fofoca, claro, já mexe com os nervos de pelica da indústria. TRICÔ E MINISSAIA Se nenhum nome desse troca-troca soa familiar, é por causa de uma outra assombraçã­o de Paris: a “capital da moda” está perdendo seus heróis.

À diferença de Milão e Nova York, cidades que conservam estrelas brilhantes como Marc Jacobs, Giorgio Armani, Miuccia Prada, Donatella Versace e Michael Kors, Paris tem um calendário de mortos.

Só neste ano, perdeu o “pai da minissaia”, André Courrèges, e a “rainha do tricô”, Sonia Rykiel. Isso sem contar os “desiludido­s”, como Thierry Mugler, que já disse à Folha achar Paris “uma grande Disneylând­ia”, e Jean Paul Gaultier, 64, nome máximo da costura francesa, que parou de apresentar coleções na semana de moda há dois anos.

“Com a ascensão dos grupos e as obrigações comerciais, percebo que o prêt-àporter se distanciou da criativida­de. Sempre tive o privilégio de fazer o que eu queria e como queria. Decidi parar de desfilar para me sentir livre”, disse Gaultier em entrevista recente à Folha.

Outro “herói” da moda francesa, o franco-japonês Kenzo Takada, 77, faz coro ao colega. Como Gaultier, ele faz parte de uma turma de “intocáveis”, gente que, mesmo lembrada mais por perfumes do que pelas criações de passarela, marcou época.

“Esse entra e sai de estilistas tem a ver com o fato de eles serem obrigados a preservar a identidade de uma marca, não a própria. É que hoje a moda é movida mais pelo marketing do que pela assinatura de um designer”, diz Kenzo à Folha.

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