Folha de S.Paulo

CRÍTICA Formato inovador não esconde narrativa fraca

Rodada com smartphone, produção nacional mostra que uma câmera na mão não é suficiente para fazer cinema

- CÁSSIO STARLING CARLOS ruim regular bom muito bom ótimo S sem avaliação

FOLHA

Depois que o lema cinemanovi­sta “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” se universali­zou com as tecnologia­s que baratearam a produção de filmes, muita gente passou a acreditar que ser cineasta é simples como andar de metrô.

“Charlote SP” é uma produção de baixíssimo orçamento feita com smartphone, o que reafirma a dessacrali­zação do cinema e a abertura dessa linguagem para transforma­ções que podem mantê-la viva.

No entanto o uso do aparato técnico relativame­nte jovem levaria a esperar novidade ou tendência à experiment­ação, o que não é o caso.

O realizador Frank Mora parece crer que tecnologia sozinha já é inovação. Mas o que a tela grande evidencia são os defeitos, que não são poucos.

A primeira limitação do filme é a narrativa. “Charlote SP” junta personagen­s que querem fazer um filme. A protagonis­ta é uma pobre menina rica que chega de Londres, onde andou pela primeira vez de metrô, e agora quer conhecer São Paulo fora da bolha de grana em que sempre viveu.

Quem a acompanha é Marcelo Scorcesar, aspirante a cineasta que faz vídeos de casamentos. O pai dela representa o vilão, um personagem que tenta mostrar uma face paulistana esnobe e canalha.

Outro personagem importante deveria ser a cidade, que só aparece, porém, como num guia turístico alternativ­o, um catálogo de obviedades que não traz nada do que pulsa fora do eixo Paulista-Centro.

Com isso, o filme coloca uma questão. Se o modo de produção é alternativ­o e os temas privilegia­m a diferença, para que perseguir o modelo tradiciona­l de exibição?

O resultado confirma que com uma câmera na mão todo mundo faz filme, mas para transforma­r isso em cinema é preciso ideias, capacidade de expressão e talento. DIREÇÃO Frank Mora ELENCO Fernanda Coutinho, Guilherme Leal, Fernão Lacerda PRODUÇÃO Brasil, 2016, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO ruim

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