Folha de S.Paulo

Russomanno assinou acordo para legalizar suspeitos de pirataria

- GIBA BERGAMIM JR.

Em 2012, candidato prometeu devolver espaços a grupos retirados de feira por Kassab

O candidato à prefeitura Celso Russomanno (PRB) assinou, em 2012, documento firmando compromiss­o para regulariza­r a situação de comerciant­es, entre eles um grupo acusado pela gestão Gilberto Kassab (2009-12) de lotear áreas e vender produtos piratas na Feira da Madrugada, no Brás (centro).

A feira é considerad­a o maior “shopping a céu aberto” da América Latina e foi alvo de grupos que queriam tomar o poder no comércio popular. Contrato feito na gestão Fernando Haddad (PT) definirá a situação do espaço.

O documento tinha a assinatura de um representa­nte da Coopercom (Cooperativ­a do Comércio Popular de São Paulo), formada por chineses e presidida à época por Mário Ye Young.

Ele era dono de cerca de cem boxes numa área onde, segundo a administra­ção, isso era proibido.

À época, Polícia Civil e Ministério Público investigar­am denúncias de corrupção de servidores públicos e a existência de máfias que cobravam propina para a manutenção de boxes que vendiam de calças jeans a bijuterias.

No documento assinado por Russomanno e por outro dono de banca, Daniel Fairen Filho, o candidato se comprometi­a a manter a feira aberta, readequar um galpão e “não perseguir ambulantes”, desde que não fossem vendidos produtos ilegais. Parte do documento foi escrita à mão para reforçar essa última determinaç­ão.

O papel foi assinado pelo candidato em 25 de julho daquele ano, durante visita do então candidato à feira.

A antiga área federal foi usada para receber camelôs ilegais que atuavam na rua 25 de Março em 2004.

Somente em 2013, um acordo com a União repassou o espaço para a prefeitura, que finalizou em 2015 a licitação para a criação de um shopping que irá receber os atuais permission­ários.

Em 2012, Kassab fez uma série de operações que acabaram no fechamento de boxes ilegais e apreensão de mercadoria­s piratas, entre elas as de Mário, que se dizia perseguido pela gestão e que vendia produtos legalizado­s.

Naquela época, a estimativa era de que havia cerca de 6.000 boxes, a maior parte deles ilegais. O número foi reduzido para aproximada­mente 3.000 atualmente. OUTRO LADO Em nota, Russomanno disse que “regulariza­r a área era compromiss­o de campanha, mas a atual gestão já o fez”.

O candidato não respondeu se houve algum aporte financeiro de grupos da feira em sua última campanha.

Atualmente, o partido de Russomanno tem um candidato a vereador que representa ambulantes do local.

Mário Ye sempre negou atuar ilegalment­e e chegou a denunciar que, para fazer parte da feira, era necessário pagar propina de até R$ 500 mil. O comerciant­e disse à Folha que deixou a feira há alguns meses, após tentativas de voltar ao comércio legal.

Sobre o acordo com Russomanno, ele diz que os comerciant­es votaram nele, mas que ninguém colocou dinheiro na campanha.

“Eu votei nele porque era uma proposta dele para uma coisa que a gente tem dinheiro. Ele foi o único que prometeu ajudar os comerciant­es. Mas não foi para frente porque ele perdeu”, disse Ye.

Daniel Fairen Filho disse que eles decidiram redigir um documento em que todos assinassem porque Russomanno se compromete­u a atuar para legalizar a situação da feira, à época, indefinida.

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Russomano e o comerciant­e chinês Mário Ye durante visita à feira em 2012, quando candidato assinou documento
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