Candidatos fazem campanha por voto nominal
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Regra inédita exige que aspirantes a vereador consigam número mínimo de eleitores
Partidos notórios por receberem muitos votos de legenda enfrentam nesta eleição um desafio: traduzir a identificação em escolhas por candidatos específicos.
Em 2016 será aplicada pela primeira vez uma regra aprovada pelo Congresso no ano passado: além de o partido ter de superar o quociente eleitoral, seus aspirantes a vereador agora precisam ultrapassar 10% desse índice em votos nominais.
O quociente é fruto da divisão dos votos válidos em um município pelas cadeiras na Câmara. Em 2012, o resultado em São Paulo foi de 103.843 —a “nota de corte” para vereadores teria sido, portanto, de 10.384.
Caso a nova lei estivesse valendo naquele ano, o único dos 55 legisladores paulistanos a perder a vaga teria sido Toninho Vespoli (PSOL), que recebeu 8.722 votos.
Neste ano, Vespoli mudou a estratégia e, em suas palavras, “busca trabalhar o nome associado ao número”, inclusive em sua página no Facebook. Outros candidatos do PSOL e da Rede fazem o mesmo.
“Ao abordar os eleitores, explicamos a mudança. A maioria não sabe”, diz Vespoli.
A motivação oficial da alteração na lei é evitar a eleição de aspirantes com baixa representação. Partidos como como o PSOL, porém, veem na reforma uma tentativa de prejudicar siglas que agregam votos ideológicos.
“Essa e outras mudanças foram ações deliberadas do Eduardo Cunha, em vingança por termos movido ação no Conselho de Ética contra ele”, diz Jean Wyllys, deputado pelo PSOL no Rio.
Na capital fluminense, 50% dos votos no PSOL em 2012 foram para a legenda. Wyllys lamenta o que vê como omissão dos tribunais eleitorais, “que não fizeram uma campanha informando sobre essa mudança”.
“Quando abordo os eleitores, muitos respondem que vão escolher a legenda”, diz Todd Tomorrow, candidato a vereador em São Paulo pelo PSOL. Com bom retrospecto em 2014, quando não se elegeu deputado federal, ele superou 15 mil votos na capital.
Em São Paulo, o PRB, com 55% de votos na sigla em 2012, também pode ser afetado pela novidade. O PSOL somou 35%. Ambos foram superados nesse quesito só por siglas que não conseguiram eleger candidatos, como o PCB, com 82% de votos na legenda.
“Não acho a medida ruim. Ela evita que, em função de puxadores de votos, você tenha qualquer pessoa eleita”, afirma Ricardo Young, candidato à Prefeitura de São Paulo pela Rede.
A organização Bancada Ativista também considera legítima a restrição. O grupo aglutina nomes do PSOL e da Rede e reage à novidade: “todos os nossos materiais de comunicação apontam para os oito candidatos que estamos apoiando”, disse o grupo.