Folha de S.Paulo

EM MEIO A UM DESERTO ELEITORAL, PARTIDO SE CONSOLA COM A MANUTENÇÃO DA HEGEMONIA NA CAPITAL DO ACRE

- FÁBIO PONTES COLABORAÇíO PARA A EM MANAUS

FOLHA,

Se na maioria das capitais o PT tem dificuldad­es em emplacar seus candidatos, em Rio Branco a estrela do partido brilha soberana. A capital do Acre, pelas últimas pesquisas, deverá eleger um prefeito petista para o quarto mandato consecutiv­o.

O prefeito Marcus Alexandre, que tenta a reeleição, surfa em uma onda de popularida­de: tem 62% das intenções de voto, 35 pontos a mais que a segunda candidata, Eliane Sinhasique (PMDB), segundo Ibope de 16 de setembro.

A vantagem se dá mesmo com o desgaste do partido, em decorrênci­a do impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff e dos escândalos de corrupção envolvendo as lideranças da legenda na Operação Lava Jato.

Caso essa vantagem se confirme no domingo (2), Rio Branco pode ser a única cidade a eleger o PT para o comando de uma capital. O Estado é governado pela legenda desde 1999, com os irmãos Viana (Jorge e Tião) se alternando no poder entre o governo e Senado. AMARELO PARA LARANJA Apesar do apoio do Partido dos Trabalhado­res, desde 2012 Marcus Alexandre tenta se desvencilh­ar dos símbolos e da cor vermelha do PT, feito que repete nesta disputa.

Na campanha passada, abandonou a estrela do PT, e o vermelho deu lugar ao amarelo. Agora, escolheu o laranja para representá-lo. Na legenda da propaganda, surge apenas o número 13.

Até a camiseta usada pelo prefeito segue a cor laranja — bem distante do tradiciona­l vermelho usado pelo governador Tião Viana.

Outra estratégia dos marqueteir­os é apresentar Marcus Alexandre como representa­nte do “novo”, apesar do predomínio de seu grupo na política local há quase duas décadas (leia ao lado).

Para o cientista político Nilson Euclides da Silva, da Ufac (Universida­de Federal do Acre), a aprovação à gestão do petista faz com que ele fique incólume ao momento ruim de seu partido. Ele comenta que a falta de articulaçã­o da oposição e a incapacida­de de apresentar proposta que dê segurança para uma mudança de grupo político no poder asseguram a longevidad­e do PT no Acre.

“O discurso da oposição de que Marcus Alexandre é do PT, e de que o PT está envolvido em escândalo, não surte efeito”, diz Silva. “O eleitor comum não enxerga assim. Ele avalia positivame­nte o que o prefeito tem feito, pois ele passou quatro anos fazendo campanha. O eleitor é muito personalis­ta, ele não vota por partido.” PAULISTA NO ACRE Engenheiro civil, Marcus Alexandre é natural de Ribeirão Preto, no interior paulista. Mudou-se para o Acre em 1999, para trabalhar na Secretaria de Planejamen­to no mandato de Jorge Viana (1999-2006).

Por ter um perfil técnico, foi escolhido em 2007 por Tião Viana, atual governador do Estado, para dirigir o Deracre (Departamen­to de Estradas e Rodagens do Acre).

Há quatro anos, foi apresentad­o aos eleitores como o “pai da BR-364”. A construção da rodovia, que cruza o Estado de um extremo a outro, foi envolta em denúncias de corrupção. A estrada já foi alvo de investigaç­ão do TCU (Tribunal de Contas da União) e do Ministério Público. CONCORRÊNC­IA Em segundo lugar na disputa, a peemedebis­ta Eliane Sinhasique é considerad­a uma das lideranças da oposição. Foi a vereadora da capital mais bem votada nas eleições municipais de 2012. Dois anos depois se elegeu deputada estadual, também com expressiva votação. Radialista, ela ganhou popularida­de por defender em seu programa a redução da tarifa de energia, feito que nunca atingiu.

Em último lugar na disputa está o candidato Carlos Gomes, da Rede, apoiado pela exsenadora Marina Silva. Ele tem 2% das intenções de voto, segundo a pesquisa do Ibope.

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