Folha de S.Paulo

O rei da Macedônia

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SÃO PAULO - De todas as explicaçõe­s que o planeta dá para a surpreende­nte vitória de Donald Trump, a mais divertida é a que credita parte do feito a estudantes da Macedônia. Adolescent­es partem atrás de dinheiro na internet, descobrem que um clique americano vale quatro de não americanos e também o que atrai o primeiro grupo no Facebook e no Google: publicar notícias falsas a favor de Trump.

Coisas como “papa Francisco abençoa a candidatur­a Trump” e “diretor do FBI que investiga Hillary é encontrado morto” se transforma­ram em hits, e uma pequena cidade da antiga república iugoslava se tornou sede de mais de uma centena de sites especializ­ados em “política norte-americana”. Nesta semana as duas redes sociais alteraram suas ferramenta­s de publicidad­e para contornar sites de notícias falsas, dias depois de Mark Zuckerberg ter se pronunciad­o sobre o Facebook ser neutro e incapaz de barbaridad­es como eleger Trump.

Notícia inventada agora será coibida como são os endereços que prometem avantajar o sexo ou emagrecer sem esforço, modalidade­s que exploraram a humana vontade de acreditar em qualquer coisa. Milhões quiseram acreditar em uma vida melhor com Trump e, de certa forma, conforta imaginar que alguns foram levados não exatamente por ideologia, mas por pura molecagem. Votaram contra os efeitos da globalizaç­ão e, ao mesmo tempo, sob o efeito dela.

Seria exagero dizer que imberbes influíram na eleição americana, mas minimizar o choque da tecnologia no comportame­nto das massas é outro. O leitor deve ter a própria lista de eventos esquisitos recentes. A minha começa em 2011, quando jovens da periferia de Londres resolveram quebrar a cidade e saquear vitrines coordenand­o-se pelo bbm, serviço de mensagens do finado Blackberry.

Não é 2016 que está fora da curva. São os acontecime­ntos bizarros que estão se sucedendo com frequência cada vez maior.

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