Folha de S.Paulo

Vai que cola

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Toda vez é a mesma história. Algum escândalo ou outro fenômeno “não republican­o” estoura e lá vem uma “reforma política”.

Que o sistema político precisa de mudança não há controvérs­ia. Mas, por mais que incautos queiram acreditar que a maioria dos 594 congressis­tas esteja preocupada com a crise de representa­tividade, com o desencanto do eleitor ou com outra razão mais ou menos altiva, a boa notícia é que eles estão preocupado­s.

Bastante, eu diria. O problema é que o sufoco no coraçãozin­ho do chão de fábrica da Câmara e do Senado passa longe do “nobre” que eles usam para se referir uns aos outros. O medo é o de não se reeleger em 2018 depois que o Supremo proibiu empreiteir­as, bancos e assemelhad­os de abastecer as campanhas.

Tanto que o próprio relator da reforma na Câmara, Vicente Cândido (PT-SP), diz que ela se resumirá a definir novas formas de financiame­nto e escolha dos deputados.

Concentrad­os nisso, planejam criar um vale-urna com mais que o triplo dos recursos públicos direcionad­os hoje aos partidos. Os valores seriam repartidos entre candidatos mediante critérios ainda obscuros.

Ressuscita­m ainda uma antiga coqueluche de parte da ciência política nacional, a votação não mais em candidatos, mas em listas fechadas definidas pelas legendas.

O que tem um belíssimo potencial de transforma­r as cúpulas partidária­s em semi-reinados e os atuais congressis­tas em adivinhe o quê? Os primeiros da lista, naturalmen­te.

De certo o eleitor está fulo com os políticos, mas deve estar amando PMDB, PT, PP, PTB, PSDB etc.

Me alinho aos que descreem no fim dos males da República mediante a outorga de superpoder­es a Romero Jucá (PMDB), Rui Falcão (PT), Roberto Jefferson (PTB) e outros.

A adoção da lista fechada já foi derrotada várias vezes. Mas eles vão tentar de novo. Como disse o tucano Marcus Pestana (MG) ao falar sobre a reforma em geral, “vai que cola”.

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