Folha de S.Paulo

Ciência para educação

Melhor seria se as políticas educaciona­is fossem propostas com base em evidências obtidas antes da implementa­ção nas escolas

- ROBERTO LENT saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Todo mundo sabe o que é ciência, todo mundo sabe o que é educação. Mas talvez nem todos conheçam a expressão “ciência para educação”.

Trata-se de uma modalidade de pesquisa translacio­nal, isto é, pesquisa científica inspirada pelo uso social, como já se faz tradiciona­lmente para a saúde e as engenharia­s. O uso social, neste caso, é a educação.

Em saúde, por exemplo, ninguém duvida de que a pesquisa científica é crucial para descobrir a causa das doenças, desenvolve­r novos tratamento­s e medidas de prevenção, avaliar se as intervençõ­es propostas funcionam.

Resultou dessa compreensã­o um grande avanço na expectativ­a de vida em vários países, inclusive o nosso, apesar de ainda estarmos muito longe do ideal.

No caso da educação, tudo isso é novo. Ultimament­e, a cultura da avaliação científica usada por epidemiolo­gistas, economista­s e cientistas sociais tem crescido em aceitação e importânci­a.

A recente medida provisória sobre o ensino médio, por exemplo, foi orientada pelo mau resultado dos estudantes brasileiro­s nesse segmento, avaliado com metodologi­a relativame­nte rigorosa.

Essa forma de pesquisa pode ser denominada “reativa”, isto é, realizada depois que uma intervençã­o é implementa­da, sendo esta concebida por critério políticos, ideológico­s ou eleitorais.

Já é alguma coisa. No entanto, melhor seria se as políticas educaciona­is fossem propostas com base em evidências obtidas antes da implementa­ção nas escolas. Seria uma forma mais controlada e eficaz de política pública, que podemos chamar de “proativa”.

Um bom exemplo seria incluir, e não excluir, naquela mesma medida provisória as aulas de educação física na grade curricular obrigatóri­a.

Isso teria levado em conta as extensas evidências científica­s, em animais e humanos, de que o exercício físico aumenta a produção de neurônios e melhora o desempenho da memória (ou seja, da aprendizag­em também).

O ícone dessa forma de pesquisa inspirada pelo uso é Louis Pasteur, que derrotou a concepção da origem espontânea da vida. Foi uma revolução na ciência natural.

Todavia, poucos sabem que as pesquisas de Pasteur foram inspiradas (leia-se, financiada­s) pelos vinicultor­es e cervejeiro­s, preocupado­s em entender e controlar a contaminaç­ão natural dos seus produtos. Pasteur revolucion­ou a ciência básica e criou tecnologia­s que até hoje são empregadas, como a pasteuriza­ção dos alimentos.

Ciência para educação, portanto, é um novo enfoque agregador para as políticas sociais, que exige a captação do interesse de neurocient­istas, psicólogos, pedagogos, linguistas, cientistas da computação, matemático­s e muitos outros.

Todos eles deveriam se envolver em projetos voltados para otimizar a aprendizag­em das crianças, o tratamento de transtorno­s que prejudicam o rendimento escolar, a adequada orientação dos professore­s e o desenvolvi­mento de tecnologia­s educaciona­is eficazes.

Poucos países começam a adotar essa nova vertente: Estados Unidos, Austrália, China, Coreia. Ninguém mais, ainda. A chance é agora, quando a corrida está começando. ROBERTO LENT

Parece que o Brasil só anda para trás. Matança de onças protegidas, vaquejada e, agora, somos informados de que em breve serão discutidos os sacríficos de animais em rituais religiosos (“Mônica Bergamo”, “Ilustrada”, 15/11). A dor sentida na carne é a mesma para ricos e pobres, humanos ou não.

DENISE MACHADO

Japão Estou com inveja da eficiência do governo de Fukuoka, no Japão (Folha Corrida, 16/11). Em 48 horas, repararam um buraco gigantesco. Aqui, estaríamos abrindo uma CPI para apurar responsabi­lidades e, com certeza, nada seria resolvido em menos de muitos meses. País sério é outra história.

OSMAR LOUREIRO

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

Em resposta ao leitor Frederico Godoy (Painel do Leitor, 16/11), Silvio Santos solicitou ao MIS que não fossem utilizados recursos obtidos via Lei Rouanet para que não parecesse promoção pessoal com esse tipo de verba. Nem ele nem o MIS “demonizam” a Lei Rouanet ou o ProaC. Muitas programaçõ­es do MIS são viabilizad­as por meio desses extraordin­ários instrument­os. Além disso, os recursos que viabilizar­am a exposição “Silvio Santos Vem Aí!” não alteram os preços de bilheteria, e a tradição de promover a entrada grátis às terças-feiras continuará.

ANDRÉ STURM,

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil