Manifestantes pró-ditadura invadem plenário da Câmara
Apreensivo, governo federal teme que protestos se espalhem pelo país
Com pauta difusa e sem lideranças, grupo defendeu Lava Jato; Rodrigo Maia determina prisões
A invasão do plenário da Câmara por manifestantes nesta quarta-feira (16) suspendeu a sessão, causando tensão no Congresso e apreensão no Palácio do Planalto.
Com pauta de reivindicação difusa e sem líderes claramente definidos, cerca de 50 manifestantes defendiam intervenção militar, gritavam “viva Sergio Moro” e pediam a presença de um general e do presidente Michel Temer.
Na noite de quarta, dezenas de pessoas tentavam bloquear acesso ao Palácio do Alvorada para protestar contra a PEC do teto de gastos públicos.
Para o governo, esses episódios geram preocupação porque se somam ao clima de confusão instalado no Rio de Janeiro nos últimos dias, com protestos em frente da Assembleia Legislativa.
Segundo assessores, o receio é que esses tipos de protestos se espalhem pelo país neste fim de ano. A ordem é acompanhá-los e monitorálos para determinar algum tipo de ação se for necessário.
Em nota, Temer disse considerar a invasão da Câmara uma “afronta” à instituição parlamentar e um “desrespeito às normas de convívio democrático”. Para ele, o episódio é “inaceitável” e será combatido “à luz da lei”.
A invasão começou depois de 15h30, quando os manifestantes quebraram a porta de vidro que dá acesso ao plenário, onde o vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PPMA), presidia a sessão.
A bandeira do Brasil foi arrancada e jogada no chão. Houve tumulto com os policiais legislativos, que usaram armas de choque, segundo servidores no local.
“Temos o direito de entrar na casa do povo”, disse Mariele D’Ottaviano, que se identificou como advogada do Movimento Patriótico Popular.
A Câmara disse que um policial legislativo e um assessor ficaram feridos. Pelo menos uma manifestante também teria se ferido.
“Eles estão todos loucos. E tem gente armada aí dentro”, afirmou Beto Mansur (PRBSP), primeiro-secretário da Câmara, durante a confusão. “Tem muita gente drogada e tem gente armada, sim”, disse Julio Delgado (PSB-MG).
Deputados foram orienta- dos a deixar o plenário por causa da suspeita de manifestantes armados —no fim do dia, a assessoria da Câmara informou que nenhuma arma foi encontrada. Os jornalistas também foram impedidos de acompanhar a ação da Polícia Legislativa.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ter determinado a prisão de todos os manifestantes. Ele classificou o grupo de “baderneiros irresponsáveis”.
Os manifestantes começaram a deixar o plenário às 17h20. Alguns saíram pelo cafezinho do plenário na companhia de deputados. Outros foram conduzidos por policiais legislativos.
Uma hora depois, o plenário estava liberado e Maia realizou sessão da Casa. Do lado de fora, houve confusão entre manifestantes e policiais.
A assessoria da Câmara afirmou que a determinação de Maia seria cumprida e que os que participaram do ato seriam identificados e levados à Polícia Federal para serem indiciados. A base seria o artigo 18 da Lei de Segurança Nacional (tentar impedir, com emprego de violência ou grave ameaça, livre exercício de Poderes da União ou dos Estados), cuja pena é de reclusão de 2 a 6 anos.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse à Folha que a reivindicação de intervenção militar é completamente fora de “propósito” e de “cogitação”. Segundo ele, não existe no “vocabulário das Forças Armadas a palavra intervenção militar”. COMUNISMO A Folha conversou com algumas dos participantes do ato. “Vim de Curitiba defender o juiz Sergio Moro e a Lava Jato”, disse Luciana Fontana, 48, “desempregada graças à roubalheira que esse governo fez com esse país”.
Ivan Cunha, 61, que se diz “empresário falido”, afirmava que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL), busca enterrar investigações contra corrupção e que o governo roubou as estatais.
A também desempregada Leonice Neves, 59, dizia estar ali para defender policiais mortos em São Paulo e no Rio. “Pelo direito dos ‘manos’, ficam soltando os bandidos”, afirmou, também se dizendo do Movimento Patriótico Militar. Ao lado dela, uma mulher que se identificou como Simone afirmou que o objetivo do grupo é acabar com esse “governo comunista”. (DANIEL CARVALHO, RANIER BRAGON, VALDO CRUZ E PAULO GAMA) LEIA MAIS em “Mercado”