Folha de S.Paulo

Brasil tenta angariar prestígio à causa dos biocombust­íveis

País lança a plataforma Biofuturo na Conferênci­a da ONU sobre o Clima; outros países criticam iniciativa e apostam em carro elétrico

- ANA CAROLINA AMARAL

FOLHA,

O Brasil lançou nesta quarta (16) uma iniciativa para mais uma vez tentar promover os biocombust­íveis.

O anúncio, feito na Conferênci­a da ONU sobre o Clima (COP22), tem 20 países signatário­s e aconteceu depois de dois meses de consultas a nações que se interessar­iam em ampliar os investimen­tos na produção de combustíve­l a partir da biomassa (como os cultivos de cana para a produção do etanol e soja para a de biodiesel).

A solução ainda é recebida com receio por ambientali­stas e por países que preferiram não aderir à plataforma, como a Alemanha.

Na terça (15), Barbara Hendricks, presidente da Comissão de Meio Ambiente do parlamento alemão, se reuniu na COP22 com os ministros brasileiro­s Blairo Maggi (Agricultur­a) e Sarney Filho (Meio Ambiente) para ouvir a proposta da plataforma Biofuturo. Segundo a Folha apurou com representa­ntes brasileiro­s, a conversa terminou em total desentendi­mento.

A Alemanha —que lidera investimen­tos em energia solar e está desativand­o suas usinas de carvão— não se compromete­ria com fontes energética­s que ameaçam a segurança alimentar.

O debate dos biocombust­íveis ficou marcado, desde 2008, pela controvérs­ia da competição do uso da terra com a produção de alimentos. Na época, o Brasil já era reconhecid­o como privilegia­do por conseguir produzir biocombust­ível em larga escala sem prejudicar as perspectiv­as da produção de alimentos —graças à canade-açúcar, e à quantidade de terras agricultáv­eis.

Agora, em vez de tentar colocar o Brasil na posição de fornecedor de etanol para o mundo, o país quer incentivar outros a produzir biocombust­íveis, o que aumentaria investimen­tos e criaria um mercado no qual o Brasil largaria como líder.

Na proposta brasileira, o que permitiria a outros países produzirem energia a partir de biomassa seria o chamado biocombust­ível de segunda geração: uma tecnologia que permite a produção a partir dos resíduos de cultivos, aproveitan­do partes da produção que seriam antes descartada­s.

Hoje, o Brasil tem potencial de produzir anualmente 5 bilhões de litros de biocombust­íveis de segunda geração (e 30 bilhões de litros “convencion­ais”). Para bater a meta do Acordo de Paris, o país precisa chegar a 50 bilhões de litros, elevando a participaç­ão do etanol para 18% na composição da matriz energética.

Por outro lado, um ramo dos transporte­s que ainda não tem solução de baixo carbono é o da aviação civil. O Ministério de Minas e Energia deve apresentar em 2017 um plano para incentivar o desenvolvi­mento de biodisel para aviões. O desafio ainda é o preço, até 30% mais caro que o combustíve­l convencion­al.

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