Folha de S.Paulo

CRÍTICA Em ‘BR 716’, leveza não se iguala a frivolidad­e

Domingos Oliveira volta a temas pessoais e ao cenário da zona sul carioca dos anos 60, mas com ares melancólic­os

- NAIEF HADDAD

Logo nos primeiros minutos de “BR 716”, a voz em off do personagem principal conta ter sido muito difícil escrever o roteiro do filme.

“Não me lembro de fatos, me lembro de impressões”, diz Felipe (Caio Blat), “alter ego” do diretor e roteirista Domingos Oliveira, sobre o longa que se passa nos anos de 1963 e 1964.

Em seguida, as cores dão lugar à fotografia em preto e branco, como em um processo de diluição da memória. O que, de fato, ocorreu? A passagem do tempo deu ares de verdade ao que eram apenas lances da imaginação?

Essas classifica­ções pouco importam no 18º filme dirigido por Domingos. Verdadeiro­s ou não, os episódios narrados em “BR 716” são, como em toda a sua obra, extremamen­te pessoais, do encantamen­to pelas mulheres à angústia diante da morte, da inquietude artística ao pendor para a boêmia.

Um dos mais inventivos autores cariocas, seja no cinema, seja no teatro, Domingos está na tela, por inteiro, e é assim que ele apresenta, aos 80 anos, um dos seus longas de maior interesse.

Com título que faz alusão à rua Barata Ribeiro, em Copacabana, onde o diretor viveu na primeira metade da década de 60, “BR 716” pode ser considerad­o a última parte de uma trilogia de Domingos, que começa com “Todas as Mulheres do Mundo” (1966) e continua com “Edu, Coração de Ouro” (1968).

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Sophie Charlotte como uma aspirante a cantora em ‘BR 716’

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