CRÍTICA Efeitos agem contra a fábula em ‘Animais Fantásticos’
História da autora de ‘Harry Potter’ se perde entre aparições de criaturas
FOLHA
Existe uma fórmula para criar uma franquia no cinema? Junte um universo de fantasia, inclua uma assinatura cultuada e entupa de efeitos mirabolantes.
Como toda receita, para dar certo é preciso alguma alquimia —um toque de personalidade ou originalidade.
Os zilhões de fãs de Harry Potter certamente recompensarão os custos exorbitantes de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, expectativa que se mede pelas quatro continuações em pré-produção.
Afinal, combina a adaptação de um livro de feitiçaria, complemento das aventuras do bruxinho; o nome de J. K. Rowling como autora e rotei- rista; e a aparição de bichos, fofos ou ameaçadores, em ritmo de montanha-russa.
No lugar da Inglaterra de ar gótico, a história se passa numa Nova York recriada digitalmente como uma Gotham City dos avós do Batman.
O cenário importa menos do que o combate entre as forças do bem e do mal —ou entre bruxos que só querem fazer seu trabalho e os trouxas obcecados em exterminá-los.
A chegada de Newt Scamander (Eddie Redmayne interpretando ele mesmo), que traz na mala um zoo sobrenatural, dispara situações absurdas e põe em risco a sobrevivência discreta dos diferentes.
O primeiro problema do filme é apresentar os personagens o suficiente para criar empatia definindo quem pertence a qual lado. Enquanto as naturezas de Newt e Porpentina têm certa nitidez, as faces de Percival e de Credence, essenciais à trama, perdem-se na obscuridade.
O segundo consiste na falta de unidade orgânica entre efeitos e progressão da trama. A cada aparição fantástica, a história trava para que uma espécie faça seu número.
O maior problema, contudo, é a inevitável comparação com a série “Harry Potter”. A ausência de um imaginário infantil e da dimensão competitiva da adolescência dificulta o alcance do mesmo patamar de identificação.
Talvez isso se resolva nas continuações, mas a primeira impressão é a de um contraste excessivo entre a evolução dos efeitos visuais e a regressão da fábula. DIREÇÃO David Yates ELENCO Eddie Redmayne, Katherine Waterston PRODUÇÃO EUA/Reino Unido, 2016, 12 anos AVALIAÇÃO regular