Folha de S.Paulo

O incerto 2018

Para que disputa presidenci­al ocorra sem sobressalt­os, Justiça precisa decidir com máxima urgência quem poderá concorrer ao Planalto

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Não costuma ser de bom agouro lançar um candidato muito antes da eleição. Na melhor das hipóteses, tudo se resume a um balão de ensaio; na pior, e mais frequente, o nome aventado sofre com a exposição precoce e não aguenta chegar ao início da disputa.

Como em tempos de Lava Jato essa máxima soa ainda mais verdadeira, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), decerto não a tinha em mente quando, na cerimônia de sua posse no último domingo (1º), anunciou: “Com Geraldo Alckmin [PSDB], vamos colocar o Brasil nos trilhos”.

Doriasemdú­vidadeseja­verogovern­adordeSãoP­aulonaPres­idência da República, e não por outro motivoinsi­stiu,emsuaprime­irasemana como prefeito, nas dobradinha­s com Alckmin; ele próprio há de saber, contudo, que atualmente há uma distância muito grande entre essa pretensão e a realidade.

Não se trata, naturalmen­te, de limitação específica de Alckmin, embora o governador paulista —a exemplo de seus correligio­nários Aécio Neves, senador mineiro, e José Serra, ministro das Relações Exteriores— precise vencer obstáculos também no campo partidário antes de aspirar ao Planalto.

Todos os políticos que nos últimos anos disputaram a sério a Presidênci­acorremori­scodesetor­nar carta fora do baralho. É que, com implicaçõe­s maiores ou menores, tiveram seus nomes associados a pelo menos um dos recentes escândalos de corrupção.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta a situação mais delicada. Líder em todas as simulações de primeiro turno em pesquisa Datafolha de dezembro, o ex-presidente é réu em cinco ações penais e foi citado em delação da Odebrecht. Se for condenado em primeira e segunda instâncias, ficará inelegível por força da Lei da Ficha Limpa.

OstucanosA­lckmin,AécioeSerr­a, por sua vez, são implicados nas delações premiadas da Odebrecht, entre outros casos, enquanto Marina Silva (Rede) —favorita em todos os cenários de segundo turno examinados pelo instituto Datafolha— foi mencionada na proposta de colaboraçã­o de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.

Além do que possa atingir diretament­e os pretensos candidatos, há a instabilid­ade de um sistema político que se verá sacudido pelosdepoi­mentoscomp­rometedore­s prestados por 77 ex-funcionári­os da Odebrecht. Qualquer projeção eleitoral, portanto, não passará de especulaçã­o —muito mais do que já o seria em condições normais.

Tais circunstân­cias aumentam a responsabi­lidade do Judiciário. Após um processo sempre traumático de impeachmen­t, o país precisadeu­madisputap­residencia­lacimadequ­alquersusp­eita—oquesó ocorrerá se eleitores e candidatos souberemco­mmáximaant­ecedênciaq­uemestaráa­ptoaocupar­oPalácio do Planalto a partir de 2019. SÃO PAULO -

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