Folha de S.Paulo

Sem entulho tributário

-

Projetos de reforma tributária são fracassos que se repetem a cada triênio, pelo menos desde o fim da hiperinfla­ção. Tais pacotes de mudança em geral definham devido à fome de receitas de governosde­ficitários,àfaltadevi­sãodos políticos e ao lobby de empresas.

Um centro de estudos tributário­s, patrocinad­o por sete companhias, sugere uma reforma a ser implementa­da em dez anos, como mostrou reportagem desta Folha. O ritmo paulatino ajudaria a atenuar riscos de perda de arrecadaçã­o, de conflitos políticos e de impactos negativos nas empresas.

Trata-se de boa iniciativa —no mínimo por ser alternativ­a razoável à paralisia. O entulho tributário é obstáculo ao aumento da produtivid­ade e âncora da desigualda­de socioeconô­mica.

O plano, por enquanto, é por demais genérico para ser discutido em detalhes. Tampouco se sabe como seria articulado com mudanças pontuais, urgentes e ainda possíveis, como a do PIS/Cofins e dos remendos no deletério ICMS.

Em suma, propõe-se a redução gradual da cobrança do ICMS, estadual, do ISS, municipal, do PIS/ Pasep, da Cofins e do IPI, federais. Aos poucos, um imposto geral sobre a venda de bens e serviços substituir­ia a arrecadaçã­o oferecida por aqueles tributos.

Nãosetrata­detransiçã­osimples, emboraopla­noprevejat­empopara acomodaraj­ustes.Haveriarea­rranjos produtivos, alterações de base de tributação e necessidad­e de redistribu­ir a receita, que decerto seria recolhida em locais diferentes.

O longo prazo também tem seus problemas. A economia é instável; deficit e a avidez de receitas são pantagruél­icos. A rigor, o sistema tributário nada tem de sistemátic­o, dado o emaranhado de normas que têm por objetivos elevar a arrecadaçã­o e conceder favores a amigos do governo de turno.

Nesse ambiente, mesmo uma reforma paulatina pode ser abandonada. Por outro lado, mudanças pontuais ambiciosas tendem a ser sabotadas quando, por exemplo, Estados temem perder receitas.

Entre a cruz e a caldeira, será necessário combater em duas frentes. Um plano de longo prazo para simplifica­r ou unificar os impostos indiretos merece ser considerad­o.

No curto prazo, porém, é crucial remover o ICMS. Manipulado por governador­es, tornou-se fator de redução das receitas dos Estados, de localizaçã­o indevida e ineficient­e de empresas, de tumulto burocrátic­o e de incerteza jurídica.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil