Folha de S.Paulo

Dois para lá, dois para cá

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O começo do governo Temer surpreende­u pela quantidade de medidas adotadas. Algumas a favor, outras contrárias ao ajuste das contas públicas.

Esperava-se menos. Afinal, o governo foi o resultado de um processo atrapalhad­o, em que a maquiagem da contabilid­ade, que seria ilícita caso praticada por empresas privadas, foi obscurecid­a pelo oportunism­o da política miúda.

Processos conduzidos sem cuidado com os procedimen­tos desqualifi­cam as deliberaçõ­es judiciais assim como as políticas. O governo turvado, porém, termina o ano com muitas medidas. Para um lado e para o outro.

A PEC que limita o cresciment­o do gasto público teve apoio inesperado no Congresso. A reforma da Previdênci­a surpreende­u pela extensão da revisão das regras para a concessão de benefícios. Foram aprovadas a lei sobre a governança das estatais e a nova regulação do setor de óleo e gás.

O pacote microeconô­mico, porém, decepciono­u no conteúdo e na forma, revelando pouca competênci­a na formulação e açodo no anúncio, com maior pendor para a manchete da política do que para a melhora da economia.

Houve, também, retrocesso­s, sobretudo com as corporaçõe­s, como a exclusão de algumas categorias da reforma da Previdênci­a.

O governo começou seu mandato aumentando os salários de parte da elite dos servidores. E escolheu terminar o ano com mais um pacote de aumentos. Enquanto isso, a crise impõe sacrifício­s para o resto da população.

O maior retrocesso ocorreu na renegociaç­ão das dívidas estaduais,provocadap­eloSTF.

O problema dos Estados não decorre das dívidas, mas sim dos gastos com a folha de pagamento e a previdênci­a dos servidores. Por essa razão, o projeto do governo previa medidas para controlar as despesas estaduais. Porém elas foram suprimidas pela Câmara.

Decisões ineptas apenas agravam a crise, como a opção por anestesia em vez de tratamento adequado em algumas doenças graves.

A crise fiscal dos Estados se deteriorou depois da renegociaç­ão das dívidas sem as contrapart­idas de ajuste, e o resultado tem sido a degradação de serviços públicos essenciais. A liminar do Supremo, que suspendeu as garantias na dívida do Rio de Janeiro, poderá piorar ainda mais o acesso ao crédito para os demais Estados.

O Senado propôs medidas de ajuste para a renegociaç­ão das dívidas no Regime de Recuperaçã­o Fiscal dos Estados insolvente­s. Essas medidas foram rejeitadas pela Câmara.

Em meio a tantos retrocesso­s nos três Poderes neste fim de ano, ao menos o governo anunciouov­etoaoregim­edesfigura­do. Não se deve subestimar a relevância do desenlace da crise dos Estados.

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