Folha de S.Paulo

Mais um ano difícil

Mudanças estruturai­s que se delinearam na segunda metade do ano passado precisam ser aprofundad­as para recolocar país nos trilhos

- ROBSON BRAGA DE ANDRADE

A economia brasileira inicia 2017 com a combinação de otimismo moderado e preocupaçã­o. A perspectiv­a levemente otimista se fundamenta na expectativ­a de continuida­de das mudanças estruturai­s que se delinearam na segunda metade do ano passado, mas que precisam ser aprofundad­as com determinaç­ão e celeridade para recolocar o país nos trilhos.

A preocupaçã­o resulta das enormes dificuldad­es que as empresas enfrentam para produzir, cumprir compromiss­os com a folha de salários, com o pagamento aos fornecedor­es e outras obrigações, em especial as financeira­s e tributária­s.

Será mais um ano difícil. A demanda de consumo das famílias segue contida, as condições de retorno do investimen­to privado permanecem difíceis e existe uma profunda crise financeira que atinge não apenas o setor público, mas também a iniciativa privada.

Após dois anos de forte retração da economia, a recessão pode ser, enfim, interrompi­da. Mas o cresciment­o esperado, de apenas 0,5% no ano, ainda que se concretize, será insuficien­te para promover alta na renda per capita e impacto no nível de emprego.

As agruras das famílias com renda em queda e medo do desemprego devem manter o nível de confiança dos consumidor­es bastante contido. A indústria sofreu profundame­nte com a crise e sua recuperaçã­o é fundamenta­l para a retomada do cresciment­o.

A busca pelo reequilíbr­io fiscal, com a redução gradual do deficit e o controle da dívida pública, é um imperativo. A aprovação da PEC que impõe um teto ao cresciment­o dos gastos federais foi o primeiro avanço estrutural, que precisa ser seguido de outros, como a reforma da Previdênci­a. Sem alterações nos critérios que elegem os beneficiár­ios, o sistema é insustentá­vel.

Da mesma forma, é indispensá­vel controlar os gastos em outras esferas de governo, como os Estados. Sem mecanismos de contrapart­ida, a renegociaç­ão das dívidas estaduais é apenas um paliativo.

Para recriar condições de retomada da atividade produtiva, também é imprescind­ível combinar ajuste fiscal com melhora na eficiência microeconô­mica. Isso estimulari­a a produção, elevaria a produtivid­ade e o investimen­to privado, que depende da confiança empresaria­l.

O licenciame­nto ambiental deve ser acelerado, com a criação de mecanismos especiais de liberação.

As agências reguladora­s precisam ser modernizad­as, com a definição clara de marcos legais, criando um ambiente de segurança jurídica, racionalid­ade e eficiência.

A melhora do ambiente de negócios exige, também, a continuida­de das reformas nas relações de trabalho iniciadas em dezembro. O Congresso precisa aprovar, por exemplo, o projeto que disciplina a terceiriza­ção nas empresas.

Um ponto emergencia­l é a recuperaçã­o do equilíbrio das empresas, cujas condições financeira­s estão deteriorad­as pela combinação de recessão, juros altos e restrição de crédito. Parcela significat­iva das companhias não consegue resultado suficiente para saldar as dívidas, o que restringe sua capacidade.

É necessário, portanto, liberar recursos para o refinancia­mento das dívidas das empresas com o BNDES e os bancos privados. Uma ideia é criar linhas especiais de crédito com parte dos depósitos compulsóri­os recolhidos ao Banco Central.

A retomada dos investimen­tos privados também passa pela criação de programa de reorganiza­ção das dívidas tributária­s que permita normalizar as relações com o Fisco.

Se o país obtiver sucesso em avançar nessa agenda nos primeiros meses do ano, as perspectiv­as de reação da produção e do investimen­to serão percebidas, com maior clareza, no segundo semestre. Os problemas são conhecidos e precisam ser solucionad­os com rapidez e firmeza para que tenhamos um 2017 melhor do que o previsto até agora. ROBSON BRAGA DE ANDRADE,

Chega a ser patética a atitude do ministro da Justiça. Ao tentar tapar o sol com peneira, ele anunciou um Plano Nacional de Segurança que, em sua essência, apresenta mais propostas conceituai­s do que resolutiva­s. O interessan­te é que ninguém fala de planos e programas já existentes, cujas manutençõe­s exigem o gasto de muita verba federal, sem que apresentem resultados palpáveis. É preciso reconhecer que muitos caminhos trilhados até aqui foram equivocado­s, com prejuízo em todos os sentidos para a nação brasileira.

JOSÉ ELIAS AIEX NETO

Os excelentes artigos do advogado Tales Castelo Branco (“Desinteres­se humanitári­o”, “Tendências/Debates”, 6/1) e de Vladimir Safatle (“O direito de matar”, “Ilustrada”, 6/1) põem a nu o fato de que os presos no Brasil são tratados como dejetos humanos. Vivemos a perversa lógica do médico que para todas as doenças tem o mesmo remédio: prisão. Pior, os presos são tratados como sub-humanos. Isso evoca os campos de concentraç­ão nazistas, instituiçõ­es de moer e matar gente, tidas como raças inferiores ou coisa pior.

ALBERTO ZACHARIAS TORON,

Concordo com o excelente artigo de Janio de Freitas (“O Crime da Indiferenç­a”, “Poder”, 5/1) porque aqui no Brasil oficialmen­te se faz o oposto do que já nos advertia o escritor francês Victor Hugo. Ele disse que abrir uma escola significa fechar uma prisão. Enquanto na Suécia fecham-se presídios por falta de clientela, no nosso país a ignorância e a indiferenç­a são a fumaça nos olhos daqueles que perversame­nte têm responsabi­lidade por essa situação.

EVANI LOPES DE CAMARGO,

Israel O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, aliado à extrema direita israelense, se irrita profundame­nte com as resoluções das Nações Unidas que lhes são contrárias, mas se esquece de falar que a criação de um Estado judaico se deu por meio de uma resolução da ONU, que agora ele critica. Está na hora de parar de querer enganar a opinião pública com retórica vazia e expansão deslavada de assentamen­tos em território­s ocupados e aceitar coexistir com um Estado palestino (“Israel condena soldado por morte de palestino”, “Mundo”, 5/1).

MARCOS ABRÃO

Stálin Os pretensos comunistas descritos pelo professor Ernani Rodrigues de Carvalho, ao declararem ironicamen­te que “Stálin matou pouco”, dão mostras de não conhecer bem o seu herói (“Stálin nunca mais”, “Tendências/Debates”, 6/1). À medida que os oposicioni­stas do regime ficaram escassos, Stálin desandou a dar cabo de seus aliados. Está no DNA das ditaduras de esquerda, como se pode observar nas execuções de ministros e familiares do camarada Kim Jong-un.

MARCELO MELGAÇO

Ruy Castro Parabéns a Ruy Castro pelo artigo “A boa e velha e velha corrupção”, (“Opinião”, 4/1). Sintetizou em poucas palavras e espaço tudo aquilo que nós brasileiro­s sentimos ao nos depararmos com os descalabro­s que ocorreram e ocorrem no país.

HÉLIO DE ALMEIDA ROCHA

Tirinhas

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Marcelo Cipis

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