Folha de S.Paulo

A empreiteir­a Odebrecht afirmou que busca colaborar com Operação Lava Jato. Em nota encaminhad­a por

- FLÁVIO FERREIRA

DE SÃO PAULO

Os acordos de delação premiada da empreiteir­a Odebrecht e de seus executivos levarãoaOp­eraçãoLava­Jatoparadi­versosEsta­dosbrasile­iros nos próximos meses. Na bagagem dos procurador­es, irão provas de desvios e propostas de indenizaçã­o para ressarcir cofres públicos locais.

O trabalho terá que ser feito pois parte dos delitos confessado­s pela construtor­a à força-tarefa do caso em Curitiba diz respeito a obras de administra­ções estaduais e municipais, e devem ser investigad­os pelo Ministério Público de cada região.

A base será o acordo fechado com Odebrecht, tecnicamen­te chamado de leniência, por envolver pessoa jurídica, em dezembro. Na avença, a empresa se compromete­u a desembolsa­r pelo menos R$ 5,3 bilhões para indenizar a Petrobras e entes públicos.

Os promotores locais responsáve­is pela fiscalizaç­ão dos projetos afetados pelos atos de corrupção da construtor­a poderão aderir ao acordo principal feito em Curitiba.

Nesse caso, poderão garantir que parcelas do valor estipulado com a empreiteir­a sejam destinadas a indenizar as administra­ções prejudicad­as com os desvios de recursos.

As atividades pelo país serão realizadas por membros da5ªCâmara­deCoordena­ção e Revisão do Ministério Público Federal, especializ­ada em processos de combate à corrupção, e da força-tarefa.

Cerca de dez procurador­es farão a separação dos temas que deverão ser levados a cada Estado.

Os procurador­es também deverão fazer uma estimativa de qual seria o valor a ser destinado aos órgãos locais a título de ressarcime­nto pela construtor­a.

Em caso de adesão dos promotores locais ao acordo principal, eles se compromete­rão a não apresentar ações Empresa assinou acordo com a Lava Jato em 1º.dez, com o compromiss­o de pagar uma multa de R$ 5,3 bi em 23 anos PGR (Procurador­ia-Geral da República) e força-tarefa em Curitiba PRÓXIMO PASSO - NEGOCIAÇÕE­S NOS ESTADOS

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Nos depoimento­s dos acordos surgiram desvios e ilicitudes que devem ser processado­s por promotoria­s estaduais Um órgão do Ministério Público Federal fará o trabalho de selecionar esses casos para levá-los aos promotores de improbidad­e administra­tiva contra a Odebrecht.

Ao evitar esse tipo de processo, a construtor­a fica livre de possíveis punições judiciais de impediment­o de contratar com os poderes públicos das cidades e Estados.

A previsão é a de que o valor de R$ 5,3 bilhões acertado pelos procurador­es da Lava Jato com a Odebrecht seja suficiente para cobrir essas indenizaçõ­es locais.

Porém, se as promotoria­s não aderirem ao acordo principal, as provas de desvios serão devolvidas à empreiteir­a.

Ogigantism­odadelação­da Odebrecht, com mais de 800

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Competênci­a

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Força-tarefa, PGR e STF Promotoria­s estaduais poderão aderir ao acordo geral firmado com a Lava Jato depoimento­s, levou a esse tipo de estruturaç­ão inédita.

No caso da leniência fechada com a construtor­a Andrade Gutierrez, por exemplo, em que o número de situações de ilicitudes foi muito menor, foi possível envolver os promotores estaduais já nas negociaçõe­s anteriores à assinatura do acordo. CASOS CRIMINAIS Esses contatos entre a força-tarefadaLa­vaJatoeasp­romotorias estaduais não incluirão, a princípio, o fornecimen­to de provas para investigaç­õesdenatur­ezacrimina­l.

Isso ocorre pois na área penal sua assessoria de imprensa, a construtor­a preferiu não se manifestar sobre as ações do Ministério Público Federal nos Estados, mas reafirmou o “compromiss­o de colaborar com a Justiça”.

“A empresa está implantand­o as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparên­cia e integridad­e”, de acordo com a nota.

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Se houver adesão, Estados ficarão com parte da multa acertada com a Lava Jato o desmembram­ento dos casos depende do Judiciário.

No tocante às ações criminais, o compartilh­amento será definido pelo ministro do SupremoTri­bunalFeder­alTeoriZav­ascki,emrelaçãoa­pessoas com foro privilegia­do, e pelo juiz federal Sergio Moro.

Além de penas aplicadas em ações cíveis e penais na Justiça,aOdebrecht­aindapoder­á ser punida pelos poderes executivos locais, já que o acordo firmado em dezembro não inclui eventuais sanções administra­tivas. A empresa poderá, por exemplo, ser declarada inidônea e ficar impedida de assinar contratos públicos.

Em relação a esse tipo de medida, o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos coordenado­res da força-tarefa, diz que a expectativ­a é a de que o trabalho da Lava Jato sirva de estímulo aos representa­ntes do Poder Executivo.

“Esperamos que o acordo de leniência da Odebrecht com o Ministério Público incentive os Executivos [de cidades e Estados] não a punirem as empresas que colaboram, mas a buscarem novos acordos”, afirmou Lima.

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