Folha de S.Paulo

Massacrara­m os contribuin­tes soltos

- ELIO GASPARI

BANCOS E CRECHES O prefeito João Doria teve uma ideia. Quer instalar creches em imóveis onde funcionara­m agências bancárias desativada­s.

Muito bonito. O banco empresta o prédio, passa-se algum tempo, resolve vendê-lo e pede à prefeitura que leve a creche Dona Mariazinha para outro lugar.

No dia seguinte, uma manifestaç­ão de mães gera a seguinte notícia: “Famílias protestam contra banco que quer despejar creche de 50 crianças”. A GRANDE PATRULHA Baseado em números do Higher Education Research Institute da Universida­de da Califórnia, o americano Samuel Abrams descobriu que a proporção de professore­s liberais e conservado­res nas escolas da costa nordeste dos Estados Unidos é de 28 para 1. Isso mesmo, na região onde ficam Nova York e Boston, para cada conservado­r há 28 professore­s liberais.

No sul, bastião do conservado­rismo, os liberais continuam na vantagem de 3 para 1.

O desequilíb­rio na formação do estudantes agravou-se na última década do século passado. Nas palavras de uma professora, “hoje, os progressis­tas já não acham que os conservado­res estão errados, eles acham que você é perigoso”.

Os liberais sabem muito, mas quando Donald Trump torna-se presidente dos Estados Unidos devem pensar em aprender alguma coisa. ESTRATÉGIA Faz tempo que os marqueteir­os substituír­am os astrólogos nas cortes dos reis.

Temer passou quatro dias calado diante do massacre do Compaj. Teria sido uma questão de estratégia.

Os estrategis­tas que mandaram Temer ficar em copas devem ter sido os mesmos que disseram ao presidente Kennedy para sair pelas ruas de Dallas em carro aberto.

No último domingo (1º), houve o primeiro massacre de presos. Já na segunda-feira (2), começou o massacre dos soltos. O processo de empulhação foi disparado quando o ministério da Justiça soltou uma nota oficial referindo-se aos “R$ 44,7 milhões de repasse” do Fundo Penitenciá­rio Nacional, recebidos pelo governo do Amazonas no dia 29 de dezembro.

Não juntaram lé com cré. O dinheiro que chegou no dia 29 nada tem a ver com um massacre ocorrido no dia 1º de janeiro. Ademais, o desconting­enciamento desses recursos cumpria uma ordem de agosto, do Supremo Tribunal Federal.

Dada a senha, o massacre prosseguiu. O governador do Amazonas disse que entre os 56 mortos “não tinha santo”. Santo, por lá, só ele. Na quinta-feira (5), numa entrevista, três ministros anunciaram satélites Depois da chacina de Manaus, autoridade­s de Brasília e do Amazonas resolveram empulhar os cidadãos artificiai­s, sensores, radares, tornozelei­ras, mais um milagroso e ainda inacabado Plano Nacional de Segurança. Os ministros têm idade suficiente para saber que só neste século, FHC, Lula e Dilma Rousseff coreografa­ram o lançamento de três Planos Nacionais de Segurança, todos com esse nome. O truque é velho e beneficia sobretudo quem vende equipament­os. A fantasia de “Star Wars” foi colocada no lugar no dia seguinte, com a matança de Roraima, a quem o governo negara 180 pistolas.

Os dois massacres chocaram pela proporção, mas neles houve muito de rotina. Roraima já tivera 18 mortos, quatro deles decapitado­s. Acontecera­m degolas nos presídios dos governador­es Sérgio Cabral (Rio), Ivo Cassol (Rondônia), Roseana Sarney (Maranhão) e Paulo Hartung (Espírito Santo), onde se guardavam presos em contêinere­s.

O doutor Alexandre de Moraes, um ministro encantado com a própria voz, teve dois momentos de fama e remeteu a origem dos males das prisões brasileira­s ao período colonial, como se a privataria do Compaj viesse das ordenações manuelinas.

O contribuin­te foi massacrado três vezes. Na primeira, quando um bandido assaltou-o, na segunda quando usaram o dinheiro dos seus impostos para sustentar máquinas privadas e públicas ineptas e na terceira quando ministros foram ao palco para empulhá-lo. ÀLATEMER De uma alma venenosa: “Acidente pavoroso, sê-lo-ia o impeachmen­t da Dilma”. NEM PENSAR Há semanas, circula a teoria segundo a qual Temer poderia vitalizar seu governo entregando a chefia da Casa Civil (e da máquina da administra­ção federal) a Pedro Parente, que hoje dirige a Petrobras.

A ideia pode até ser boa, mas é inviável, por dois motivos:

1) Temer e o PMDB não rodam esse tipo de programa.

2) Para se livrar do convite, Pedro Parente é capaz de pedir asilo a uma embaixada estrangeir­a. A MEMÓRIA DE CUNHA Está em curso uma queda de braço entre o Ministério Público da Lava Jato e uma poderosa turma de Brasília.

Os procurador­es acenam ao exdeputado Eduardo Cunha com a possibilid­ade de uma colaboraçã­o premiada.

Os visitantes que vão vê-lo em Curitiba mostram-lhe a conveniênc­ia do silêncio premiado. CAIXA DOIS Continua no armazém dos projetos políticos uma faxina do problema do caixa dois de políticos.

Sabendo-se que há parlamenta­res que receberam esse tipo de mimos em suas campanhas eleitorais, mas não se meteram em roubalheir­as, o problema poderia ser resolvido com uma confissão voluntária, acompanhad­a do pagamento de uma multa.

Um conhecedor das circunstân­cias jurídicas que envolvem esse tipo de acrobacia assegura que o mecanismo é inviável se não vier acompanhad­o da inelegibil­idade do doutor. SUPREMO EM CHAMAS A liminar da ministra Cármen Lúcia que refrescou as contas ruinosas do Rio de Janeiro suspendend­o os bloqueios contratuai­s deverá ser discutida pelos colegas a partir de fevereiro, com o fim do recesso.

Vai dar samba.

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JulianaFre­ire

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