Folha de S.Paulo

Deportados para o Brasil passam fim de ano na cadeia e relatam más condições

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DO ENVIADO A NASSAU (BAHAMAS)

Na tarde da última quintafeir­a (5), cinco brasileiro­s são escoltados por um agente da imigração das Bahamas até a porta do avião que os levaria ao Panamá.

Era o fim da tentativa de chegar aos Estados Unidos, mas o grupo está eufórico: após seis dias, deixavam pra trás o infernal centro de detenção para imigrantes.

“Nunca me senti tão humilhado”, diz um do grupo, que concordou em falar com a reportagem desde que não fossem identifica­dos. “Já puxei (cumpri pena) no Brasil, mas não era tão ruim.”

A desventura dos três mineiros e dois rondoniens­es, todos homens, começou em 21 de dezembro, quando desembarca­ram em Nassau e foram recebidos por um coiote brasileiro, identifica­do pelo apelido, Guga.

No dia de Natal, já sem o coiote, eles viajaram de avião à pequena ilha de Bimini, o ponto das Bahamas mais próximo de Miami —a apenas 92 km de distância.

Ali, em meio a praias paradisíac­as, ficaram em um hotel indicado por Guga à espera do sinal para viagem.

O prometido era embarcar em dois dias, mas nada aconteceu. No meio da espera, parentes avisaram, assustados, sobre a notícia dos 12 brasileiro­s desapareci­dos após tentarem a mesma travessia, mas nenhum deles pensou em desistir.

“A gente nunca acha que vai acontecer conosco o que aparece na TV”, justificou um deles.

Após seis dias sozinhos, eles foram localizado­s no ho- tel e presos por autoridade­s bahamenses. A passagem do Ano-Novo foi no piso duro da pequena cadeia da ilha.

“O ar condiciona­do estava muito forte e passamos frio, mas estávamos sozinhos. Era um palácio comparado com o que vinha”, disse um dos mineiros.

No dia seguinte, os cinco embarcaram num avião comercial de volta a Nassau — aspassagen­sforampaga­spor um deles.

Na capital, foram algemados e levados ao centro de detenção Carmichael Road, alvo de diversas denúncias internacio­nais de maus-tratos, incluindo um relatório recente da Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA).

Afoitos, os cinco deportados falavam com a reportagem ao mesmo tempo para contar os horrores do local. Logo na chegada, relatam, um dos guardas roubou US$ 360 do bolso de um dos brasileiro­s.

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Divulgação/Icadh Entrada do centro de detenção Carmichael Road, em Nassau, onde brasileiro­s ficaram presos à espera de deportação

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