Folha de S.Paulo

Um custo de R$ 187 milhões para recuperar o trecho.

- DIMMI AMORA PEDRO LADEIRA ENVIADOS ESPECIAIS A LUIS EDUARDO MAGALHÃES (BA)

Uma gota de suor escorre pelo rosto do borracheir­o João Marciano, o Gauchinho, enquantoel­edámaisuma­batida com um martelo para tirar a roda de um caminhão parado em sua loja em Placas, último povoado do oeste da Bahia. A roda sai do eixo após uma última puxada. O pneu está destruído.

“Esse já era. Vai pra pilha”, diz Gauchinho ao caminhonei­ro Rafael Balan, que observa conformado.

O pneu de R$ 1.400 vai para uma área na lateral da loja que, segundo o borracheir­o, estava limpa havia um mês e agora tem outros 30 pneus amontoados à beira da BA-460, uma das vias que ligam a região ao Tocantins.

O trecho faz parte de uma rota de 262 quilômetro­s que é considerad­a a pior estrada do país entre os 109 principais corredores de tráfego pesquisado­s todos os anos pela CNT (Confederaç­ão Nacional dos Transporte­s).

A reportagem da Folha percorreu a rota ida e volta.

Velha, perigosa, sem sinalizaçã­o, com curvas fechadas, pontes estreitas, buracos e ondulações, a ligação viária entre as cidades de Luís Eduardo Magalhães (BA) e Nati- vidade (TO) fez o caminhonei­ro perder tudo o que ganharia no frete.

É um pedaço da conta que colabora para o país a desperdiça­r, todo ano, R$ 2,3 bilhões com a má qualidade das estradas, segundo a CNT.

São perdas financeira­s —na estimativa da CNT, cada caminhão que passa por esse trecho gasta 48% mais do que gastaria numa estrada boa— e também de vidas.

Em 2014, foram 110 acidentes com 12 mortes, colaborand­o com a estimativa de 44 mil mortes por ano no Brasil.

“Morre mais gente em estradas aqui do que em países em guerra”, diz Bruno Batista, diretor da CNT, que estima VELOCIDADE De acordo com dados da consultori­a Bain & Company, o Brasil tem apenas 14 mil quilômetro­s de estradas de qualidade, com vias de mão dupla, acostament­o e sinalizaçã­o, chamadas de autoestrad­as. Isso significa menos de um décimo do total de vias americanas e chinesas nessa condição, outros dois países com grandes território­s.

Para dirigir na pior estrada do Brasil, os caminhonei­ros contam que precisam andar em baixa velocidade por vários quilômetro­s. Estão sujeitos a freadas bruscas, fazendo com que o consumo chegue a 1,4 km por litro —numa estrada de boa qualidade, seria possível fazer até 2,2 km/l.

Placas são outra raridade narodovia.Numtrechod­aTO040,próximoàci­dadedeBom Jardim (TO), uma descida terminanum­trevocomdu­ascurvas em 90 graus. Sem sinalizaçã­o, as opções para quem não conhece a estrada são a freada brusca ou a passagem em linha reta já dentro do terreno do comerciant­e Genivaldo Oliveira de Araújo.

Há18anosmo­randoali,ele conta que nunca viu a estradater­conservaçã­oadequada. O trecho esteve entre os mais mal avaliados do país nos últimos cinco anos, embora o

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil