Folha de S.Paulo

Temer discute bloqueios com chefe do STF

Presidente se reuniu com Cármen Lúcia neste sábado, após liminares impedirem União de cobrar dívidas do Rio

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Governo quer convencer Corte de que Tesouro não pode abandonar medida e evitar novas decisões similares

O presidente da República, Michel Temer, reuniu-se com a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Cármen Lúcia, na manhã deste sábado (7), não apenas para tratar da crise penitenciá­ria do país, mas também para aparar arestas na relação entre os dois Poderes.

Segundo integrante­s do primeiro escalão do governo federal e do STF ouvidos pela Folha, o presidente ficou bastante irritado com o que considerou uma interferên­cia da Suprema Corte na polêmica da dívida dos Estados.

Na semana passada, Cármen Lúcia concedeu duas liminares que evitaram bloqueios —de R$ 181 milhões e de R$ 192 milhões— das contas do Estado do Rio em função de dívidas com a União.

O mais incomodado com a resolução da presidente do Supremo foi o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), de acordo com um de seus colegas de Esplanada que considera a decisão um golpe no aperto fiscal do governo.

Para a Fazenda, agora é o momento de convencer o STF de que os bloqueios são obrigatóri­os e que o Tesouro não tem como não fazê-los.

Para evitar novas iniciativa­s nesse sentido, o presidente decidiu encontrar-se com a ministra e fez questão de se deslocar até a casa dela como uma tentativa de passar imagem pública de “deferência”.

Cármen Lúcia deve realizar audiência com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e com Meirelles nesta quartafeir­a (11). Pezão e o ministro também se encontram nesta segunda (9), no Rio.

A assessoria da ministra não atendeu à reportagem neste sábado para informar se a agenda está mantida após a conversa com Temer.

Até o final da semana passada, o STF não tinha registros de novos pedidos para evitar bloqueios de contas dos Estados. A Secretaria de Fazenda de Minas Gerais, por exemplo, informou não ter intenção de recorrer ao Supremo, “até porque o Estado não teve nenhum recurso bloqueado, nem vislumbra a possibilid­ade de isso ocorrer”.

Segundo o STF, a Advocacia-Geral da União ainda não recorreu da decisão sobre o Rio, que alega calamidade financeira e argumenta que precisa da verba para pagar servidores e manter serviços.

Para auxiliares de Temer, se as liminares forem mantidas, o sistema de garantias contratuai­s fica em situação frágil e isso dificulta o aval a empréstimo­s estaduais. O governo tentará derrubar a liminar no plenário.

Após as decisões de Cármen Lúcia, o governo passou a cogitar a suspensão temporária da autorizaçã­o para que Estados tomem empréstimo­s com aval da União.

O Planalto pretende esperar que o plenário do STF analise as liminares para, só depois disso, tomar decisão sobre a suspensão do aval a novos empréstimo­s.

O Judiciário está em recesso e só deve retomar a normalidad­e dos trabalhos em fevereiro. (BELA MEGALE, GUSTAVO URIBE, LAÍS ALEGRETTI, MARINA DIAS E LETÍCIA CASADO)

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