Orientador da medalha Fields brasileira
“Fazer matemática de porta trancada no inverno sueco é fácil, quero ver aqui no meio dessa paisagem”, disse Welington Melo à revista “Piauí” em 2014, em sua casa em Angra (RJ), a bordo do veleiro Desdu, seu companheiro de mais de duas décadas.
Seu pupilo mais famoso, Artur Avila, acabara de ser laureado com a medalha Fields, o “Nobel da matemática”, e ele não escondia de ninguém a satisfação.
Avila é o único latino-americano vencedor da medalha, e a honra veio com um doutorado orientado por Melo — que não teve filhos, mas considerava o aluno melhor do que qualquer descendente que poderia ter, de acordo com sua mulher, Gilza.
Antes dos veleiros e antes dos números, nasceu na minúscula Guapé (MG), em 1946, cidade que seria inundada pela construção de Furnas dali a alguns anos. Estudou engenharia elétrica na UFMGeiaseenveredandopela física até conhecer o matemático Elon Lages Lima em um congresso, que o convidou para estudar no Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada).
Lá, especializou-se no estudo de sistemas dinâmicos (que descrevem movimentos com leis matemáticas) e completou o doutorado em dois anos (metade do tempo previsto). No Impa,deu aulas por mais de quatro décadas.
“Ele ficava impressionado de fazer o que mais lhe dava prazer e ainda receber dinheiro por isso”, lembra Gilza.
Morreu no último dia 21, por complicações decorrentes de um infarto. Deixa a mulher, Gilza, quatro sobrinhos e grande contribuições à ciência brasileira. coluna.obituario@grupofolha.com.br