Folha de S.Paulo

CRÍTICA David Bowie caiu na tela movido a cocaína

Um ano depois de sua morte, filme cult de 1976 volta aos cinemas com atuação errática do cantor como um alienígena

- THALES DE MENEZES

David Bowie como o alienígena Thomas Jerome Newton, em ‘O Homem que Caiu na Terra’

Neste domingo (8) ele completari­a 70 anos. Na quinta (12), dois dias depois da data que marca um ano da morte de David Bowie, volta aos cinemas brasileiro­s o primeiro filme estrelado pelo cantor inglês. “O Homem que Caiu na Terra” (1976) é a história de um alien em busca de água para seu planeta moribundo, contada em ritmo letárgico. Tem roteiro cheio de furos e atuações quase amadoras.

Dirigido pelo inglês Nicolas Roeg, o longa cativou duas facções de fãs: os admiradore­s de ficção científica, gênero que teve exemplares primorosos no cinema britânico dos anos 1970, e os muitos seguidores de Bowie.

É arriscado dizer que é uma das melhores interpreta­ções de Bowie, ao lado do prisioneir­o de guerra em “Furyo – EmNomedaHo­nra”edovampiro de “Fome de Viver”, ambosde198­3.Porquenãos­epode chamar seu desempenho em “O Homem que Caiu na Terra” de interpreta­ção.

Nas filmagens, Bowie, então com 29 anos, estava entupido de cocaína. Comprava dez gramas por dia. Roeg deu ao cantor um fiapo de roteiro e insistiu em manter as gravações fugindo bastante da cronologia dos acontecime­ntos da trama. Bowie repetia a todos ao redor que não sabia o que estava fazendo.

Essas condições assegurara­m um certo ar apalermado ao personagem Thomas Jerome Newton, um alien que consegue enriquecer em poucos meses na Terra. Ele usa a ciência avançada de seu mundo para patentear inovações tecnológic­as e cria em tempo recorde um conglomera­do de empresas de ponta.

Visto como bilionário excêntrico, Newton comanda em suas fábricas a construção de uma nave espacial na qual possa voltar a seu mundo e salvar sua família, mostrada em flashbacks.

Os cenários e os figurinos alienígena­s são paupérrimo­s. A câmera oferece enquadrame­ntos e cortes estranhos. Mas a força do filme está na crítica à intrusão das grandes corporaçõe­s na vida das pessoas, em seu caráter sombrio e na figura singular de Bowie.

A cópia que chega agora ao cinema está sem os cortes que a censura brasileira impôs no lançamento, que eliminaram flagrantes de nudez frontal do cantor. Na TV, exibido em horários tardios nos anos 1980, era tanta cena cortada que o filme tinha 36 minutos a menos. Agora, volta com suas duas horas e 18 minutos.

O culto póstumo a Bowie reforça as atenções a um filme irregular, mas com tamanha significân­cia pop que merece ser objeto de culto. (THE MAN WHO FELL TO EARTH) DIREÇÃO Nicolas Roeg ELENCO David Bowie, Candy Clark PRODUÇÃO Inglaterra, 1976, 16 anos QUANDO estreia na quinta (12) AVALIAÇÃO muito bom

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