Folha de S.Paulo

Carta aberta aos prefeitos

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POR PIOR que sejam os problemas de caixa, as dívidas acumuladas pelo município e as surpresas ruins que todos vocês tiveram nesta primeira semana de governo, lembrem-se de que a paciência do eleitor é curta para quem só sabe reclamar da vida ou do destino. Aliás, todos vocês já sabiam desde a época de campanha —antes até— que a situação era difícil. Agora é arregaçar as mangas e fazer as coisas acontecere­m.

Se escolherem o caminho da sustentabi­lidade, a chance de dar certo é maior.

Dê destino correto para os resíduos (a maioria das cidades ainda tem lixões) e, se não houver recursos para instalar um aterro sanitário no curto prazo, promova a coleta seletiva (de lixo seco) e a compostage­m (de matéria orgânica) para reduzir os danos ambientais que a sua cidade causa. Pode ser que isso gere uma economia de recursos.

Segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), as cidades precisam ter 12 metros quadrados de área verde por habitante. Faça a conta e veja se o seu município tem cobertura vegetal suficiente para garantir umidade, temperatur­a e bem-estar mínimos para os moradores. A relação custo-benefício de um projeto de arborizaçã­o urbana é das mais vantajosas que existem.

Seja amigo da bicicleta, das hortas urbanas, da reciclagem, do reúso de água e do IPTU Verde (que beneficia quem realiza intervençõ­es sustentáve­is no imóvel).

Persiga os poluidores que desrespeit­am a lei, tenha rédea curta com a especulaçã­o imobiliári­a, tolerância zero com as ocupações irregulare­s. Seja um bom xerife da qualidade de vida de todos, sem privilégio­s. Nomeie um secretário de Meio Ambiente que saiba contrariar interesses e não tenha medo de dizer não quando necessário. Se o secretário em questão não for da área ambiental (mas seja um bom gestor), nomeie como subsecretá­rio alguém que saiba o que é “DBO” ou “licenciame­nto ambiental” para ser o anjo da guarda sustentáve­l do chefe. Puna exemplarme­nte os casos de corrupção e cerque-se de quadros técnicos confiáveis e honestos.

Muita atenção com os empresário­s de ônibus, com os construtor­es e com aqueles que recorrem a influência e dinheiro para privilegia­r os interesses pessoais em detrimento do coletivo.

Privilegie os mais pobres e faça um pacto com a sua consciênci­a: em nenhuma hipótese entregar uma cidade mais degradada para seu sucessor.

Os governos que escolherem o caminho da sustentabi­lidade têm mais chance de dar certo

AMÉRICO JOSÉ escreve na próxima edição

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