Folha de S.Paulo

Show de horrores

O que mais espanta é a superficia­lidade das propostas e o caráter retórico do Plano Nacional de Segurança Pública

- JULITA LEMGRUBER E RODRIGO GHIRINGHEL­LI DE AZEVEDO Universida­de Candido Mendes. No Estado do Rio de Janeiro, foi diretora do Sistema Penitenciá­rio (199194) no governo Leonel Brizola e ouvidora de Polícia (1999-2000) na gestão Anthony Garotinho

Na semana passada, assistimos a um filme de terror que periodicam­ente se repete no Brasil.

Depois do massacre de mais de 90 pessoas sob custódia do Estado em presídios de Manaus e Boa Vista, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que comprovada­mente recusou ajuda à governador­a de Roraima, Suely Campos, anunciou seu panfletári­o Plano Nacional de Segurança Pública.

Há 20 anos apresentam-se planos nacionais sempre que algum acontecime­nto espetacula­r chama atenção da sociedade e da mídia.

Tais planos geralmente pecam pelo improviso e pelo não enfrentame­nto dos problemas estruturai­s do setor, que colocam em xeque nossa cambaleant­e democracia. Entre eles, a falta de capacidade do Estado brasileiro de enfrentar a violência homicida, que vitima em torno de 60 mil pessoas por ano, e a altíssima letalidade da nossa polícia, que mata em média nove pessoas por dia. O último não é diferente.

Os poucos avanços pontuais obtidos nesses 20 anos não tiveram continuida­de, como foi o caso do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), de 2007, que procurou articular o financiame­nto federal a contrapart­idas de Estados e municípios, sobretudo na área da prevenção.

Mais recentemen­te, em 2015, o governo federal apresentou à sociedade um detalhamen­to de programas e metas para redução de homicídios, cuja elaboração contou com a participaç­ão de pesquisado­res e entidades civis. Esse trabalho foi descartado pelo atual governo.

Assim que assumiu a pasta, o novo ministro da Justiça declarou que o combate ao crime não precisava de pesquisa, e sim de mais armas, em claro apoio à lógica meramente repressiva e belicista, comprovada­mente fracassada tanto aqui quanto em outros países.

O que mais espanta no que está sendo agora apresentad­o é a superficia­lidade das propostas e o caráter retórico do plano nacional, que nem merece esse nome, pois prevê intervençõ­es repressiva­s pontuais em três cidades (Maceió, Natal e Porto Alegre) e nenhuma ação articulada de prevenção nas áreas com maiores taxas de violência.

E o que é pior, o conceito de homicídio utilizado ignora latrocínio­s, lesões seguidas de morte, mortes provocadas pela polícia e mortes de policiais em serviço —ocorrência­s já incorporad­as nos planos anteriores como parte do conceito mais amplo de violência letal intenciona­l.

Para responder à crise penitenciá­ria, o plano promete criar vagas em unidades federais e estaduais, sem qualquer articulaçã­o com um programa mais amplo capaz de estancar o vertiginos­o cresciment­o da superlotaç­ão carcerária.

Ao contrário, inúmeras propostas do plano vão contribuir para uma explosão jamais vista do número de presos. O plano também é míope porque não apresenta propostas concretas para o grave problema dos presos provisório­s, que representa­m quase metade do total e que, na grande maioria, estão presos ilegalment­e, como várias pesquisas já demonstrar­am.

Seria irrealista esperar do atual governo que enfrentass­e uma discussão séria sobre nossa atual política de drogas, responsáve­l por superlotar presídios com usuários e pequenos traficante­s, e por alimentar, dentro e fora das cadeias, o poderio das facções criminosas.

Mas não se esperava um mergulho tão profundo nas mais retrógrada­s das mentalidad­es penais, nem uma degradação tão acelerada das estruturas de segurança e Justiça criminal no Brasil. É preciso urgentemen­te frear essa lógica, ou a barbárie e o horror cada vez mais farão parte do cotidiano de nosso país. JULITA LEMGRUBER, RODRIGO GHIRINGHEL­LI DE AZEVEDO,

A Folha extrapolou ao dedicar uma página inteira para publicar as fotos dos presidiári­os (leia-se, bandidos) mortos nas rebeliões nos presídios de Manaus e Boa Vista (“Maioria dos mortos estava preso por roubo”, “Cotidiano”, 8/1). O que interessa ao leitor saber nome, idade e tipo de delito cometido por cada um? Leitores assíduos são obrigados a ver, diariament­e, imagens de bandidos de todos escalões do Executivo, Legislativ­o e Judiciário. Isso é mais do que suficiente.

GUILHERME LOUREIRO,

Governo federal Que o governo Temer não está bem não se discute. Os episódios envolvendo violência nos presídios têm revelado sérios problemas nas escolhas de ministros e na maneira de administra­r esses acontecime­ntos. Contudo querer responsabi­lizá-lo pela totalidade dos problemas pelos quais passa o Brasil, como dito com veemência pelo senador Lindbergh Farias e por Raimundo Bonfim (“O redemoinho de 2016”, “Tendências/Debates”, 8/1), é no mínimo tentar esconder a origem do que estamos passando.

JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA ROBALDO,

Streep x Trump Meryl Streep mostrou a sua grandeza na crítica que fez sobre este presidente primário. Donald Trump é uma espécie de Lula da direita, comunica-se bem com o público menos informado, ao mesmo tempo em que se mostra um camarada paupérrimo de valores. Ele é desses para quem os fins justificam os meios. Tenho convicções de que os EUA vão logo se fartar da sua presença (“La La Land é vencedor do Globo de Ouro”, “Ilustrada”, 9/1).

PAULO ROBERTO FERNANDES

O que é que o STF tem a esconder? Como é que pode esse tribunal se recusar a fornecer os dados detalhados sobre viagens e diárias de seus ministros e servidores? Vossas excelência­s só levantam suspeitas. Estão acima das leis? Quem não deve, não teme.

NATIA ELEN AURAS

Colunistas Felicito Luiz Felipe Pondé pelo brilhante texto “Os idiotas do sucesso” (“Ilustrada”, 9/1). São muitas as contribuiç­ões filosófica­s. Faço votos para que continue sempre brilhante, usufruindo do sucesso dos seus artigos, livros e conferênci­as.

FELIPE L. G. E SILVA

PVC comete um erro —recorrente no caderno de esportes da Folha— e ignora o resto do Brasil ao falar de jogadores estrangeir­os no país (“O estrangeir­o”, “Esporte” 8/1). Chega a ser irritante ver um jornalista com tanto conhecimen­to mostrar visão tão estreita. O esporte brasileiro existe além das fronteiras paulistas.

EDUARDO JORGE MARTINS MACHADO

Muito bom o artigo de Drauzio Varella (“Fim de festas”, “Ilustrada”, 7/1). Mostra os exageros que são cometidos nas festas de fim de ano. Contudo gostaria de lembrá-lo que agora vem o Carnaval, com blocos a insuportáv­eis decibéis e muita gente alcoolizad­a.

FRANCISCO DA COSTA OLIVEIRA

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Paulo Branco

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