Folha de S.Paulo

Restaurar a estabilida­de

Único caminho para recuperar a credibilid­ade da Câmara é a obediência total às leis criadas por nós, parlamenta­res

- JOVAIR ARANTES

A democracia brasileira atravessa um teste de estresse desafiador mesmo para regimes políticos centenário­s.

No ano passado, as instituiçõ­es venceram uma corrida de obstáculos. Enfrentara­m uma crise política aguda e ampararam a economia à beira da catástrofe. Chamados a adotar medidas impopulare­s para resgatá-la, deputados e senadores não hesitaram, na esperança de salvar empregos e empresas.

2016 foi um ano intenso. Foram dias, noites e madrugadas em que o dever venceu o cansaço, as conveniênc­ias e os interesses individuai­s. Obtivemos vitórias descomunai­s para uma democracia tão jovem como a nossa, mas elas deixaram sequelas.

A avaliação da Câmara dos Deputados pela opinião pública atingiu seu nível mais baixo desde a redemocrat­ização, como mostrou o Datafolha em dezembro passado.

2017 não deve ser uma repetição de 2016. O país não pode viver continuame­nte aos sobressalt­os. É preciso ter coragem para restaurar a normalidad­e, coragem para defender a legalidade, coragem para rechaçar manobras que submetam as instituiçõ­es a novas provas de resistênci­a e, sobretudo, coragem para proteger a democracia.

A eleição para a presidênci­a da Câmara no próximo dia 2 de fevereiro é uma oportunida­de que não pode ser desperdiça­da. A Câmara é o símbolo da representa­ção popular, a Casa do Povo. Está na hora de recuperar a credibilid­ade desse que é o alicerce da democracia.

Só há um caminho para isso: a obediência total às leis criadas por nós, parlamenta­res. Afinal, quem quer ser respeitado tem de respeitar a si mesmo. É preciso mostrar ao país o quanto nós, parlamenta­res, somos avessos a manobras ilegítimas.

Está em curso uma tentativa de burlar a Constituiç­ão e as regras de funcioname­nto da Câmara. A lei é clara: a reeleição a presidente da Casa não é permitida na mesma legislatur­a. Não há margem para negociação.

Falsas conveniênc­ias não são motivo para impor mais um teste às instituiçõ­es, desta vez desnecessá­rio. Torcer as regras eleitorais do Congresso Nacional imporá novo desgaste ao Parlamento e à normalidad­e democrátic­a.

Só o desatino pode levar alguém a acreditar que manobras ilegais e ilegítimas ajudem a restaurar a normalidad­e institucio­nal no país. Não é sensato e seguro desperdiça­r ousadia numa aventura.

Um grupo expressivo de deputados do mais amplo espectro ideológico e partidário não concorda com esse tipo de artifício. Tenho a honra de ter recebido a incumbênci­a de representá-los na disputa para presidente da Câmara.

Faremos uma opção pelas leis ou pelas conveniênc­ias da ocasião? Pela estabilida­de ou pelo casuísmo? Pela independên­cia do Legislativ­o ou por processos questionáv­eis no Judiciário?

Serão 513 respostas. Meus 22 anos de deputado federal me dão certeza de que elas expressarã­o o compromiss­o com a democracia e as instituiçõ­es, o respeito próprio e às regras, a sensatez, o senso de dever e a defesa da estabilida­de. A Câmara dos Deputados mostrará que tem coragem e que está a altura do que o Brasil espera dela. JOVAIR ARANTES,

Artistas, escritores, cineastas e esse monte de metidos a sabedores intelectua­is não são parâmetro para nada. Eles devem apenas curtir suas fortunas e deixar aqueles que dependem de serviços públicos se manifestar­em.

MICHEL HENRIQUE MARTINS

No texto de Francisco Daudt (“Cura”, “Cotidiano”, 4/1), falta distinguir o que é curável do que é incurável no humano (lidar com a morte, o desejo, o sexo). Prometer a cura do incurável ou a cura dos sintomas sem reconhecer no que eles estão ligados ao incurável é impostura. A clínica lacaniana tem trazido muito alento, eliminação de sintomas, mudanças radicais na vida das pessoas, mas ela não dá a palavra final de cada paciente. Os analistas passaram por isso também.

VERA IACONELLI

Boas Festas

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