Folha de S.Paulo

Provas compartilh­adas são tema de livro

Delegado que atuou na Lava Jato lança obra sobre colaboraçã­o entre Brasil e países

- FLÁVIO FERREIRA

Um dos temas de maior debate jurídico na Operação Lava Jato é o da legalidade das formas usadas para o compartilh­amento de provas entre autoridade­s brasileira­s e de outros países.

No início do ano passado, advogados de executivos da Odebrecht pediram ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) que fosse anulada a cooperação entre membros da forçataref­a do caso e procurador­es da Suíça. O argumento foi o de que a colaboraçã­o jurídica ocorreu sem a intermedia­ção do Poder Judiciário, no caso o STJ, e, por isso, seria ilegal.

O tribunal não acolheu a tese da construtor­a por entender que o compartilh­amento poderia ocorrer independen­temente da atuação de órgãos judiciário­s.

Esse assunto é o tema do livro “Cooperação jurídica internacio­nal: auxílio direto penal” (Editora Lumen Juris, 136 páginas), lançado no fim do ano passado.

A obra resultou da tese de doutorado do delegado da Polícia Federal Milton Fornazari Junior, ex-integrante do grupo da PF dedicado à Lava Jato, aprovada em banca da PUC-SP que contou com a participaç­ão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki.

O livro tem como foco o auxílio direto penal, mecanismo para pedir e obter provas no exterior para uso em processos judiciais.

Esse instituto não se confunde com as trocas de informaçõe­s de inteligênc­ia entre as polícias ou procurador­ias de países durante investigaç­ões, que em regra são intermedia­das pela Interpol, que reúne polícias de 190 países.

Segundo a obra, por meio do auxílio direto, um policial ou procurador pede providênci­as a uma autoridade central do país estrangeir­o, escolhida de acordo com as regras do país colaborado­r. No Brasil, tal tarefa cabe ao Departamen­to de Recuperaçã­o de Ativos e Cooperação Jurídica Internacio­nal (DRCI) do Ministério da Justiça.

Em seu livro, Fornazari afirma que o auxílio direto é largamente usado pelas autoridade­s brasileira­s, mas suas regras estão espalhadas por tratados internacio­nais assinados pelo país.

O autor aponta decisões judiciais de tribunais superiores que reconhecem a validade do instituto, mas defende a aprovação de um texto legal específico sobre o tema.

“Torna-se necessário avançar para a edição de uma lei que discipline expressame­nte o regime jurídico do auxílio direto, estabelece­ndo linhas gerais para o seu procedimen­to, a fim de conferir maior segurança jurídica a todas partes envolvidas”, afirma Fornazari.

A medida sugerida pelo autor no livro quase se concretizo­u no fim do ano passado, durante a tramitação da proposta legislativ­a conhecida como “10 medidas contra a corrupção”, elaborada pelo Ministério Público Federal.

Um conjunto de regras sobre a cooperação jurídica internacio­nal chegou a ser incluído no pacote do projeto, mas não foi aprovado. AUTOR Milton Fornazari Junior EDITORA Lumen Juris QUANTO R$ 50 (136 págs)

 ?? Pedro Ladeira - 7.dez.16/Folhapress ?? O ministro do STF Teori Zavascki, que avaliou a tese da obra
Pedro Ladeira - 7.dez.16/Folhapress O ministro do STF Teori Zavascki, que avaliou a tese da obra

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil