Folha de S.Paulo

Governo busca aval da Justiça para novo programa de socorro ao Rio

Plano acertado pela Fazenda com Estado à beira da falência será submetido a Temer e ao STF

- LAÍS ALEGRETTI MARINA DIAS LETÍCIA CASADO LUCAS VETTORAZZO

Medidas impostas em troca de suspensão no pagamento de dívidas incluem teto de gastos e privatizaç­ão de estatal

A equipe econômica do presidente Michel Temer e o governo do Rio decidiram nesta segunda-feira (9) apresentar um novo programa de recuperaçã­o para tirar o Estado da grave crise financeira em que mergulhou no ano passado.

A proposta deve ser submetida até esta quarta-feira (11) à avaliação de Temer e da presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Cármen Lúcia, que na semana passada impediu o governo de bloquear recursos que garantiam o pagamento de dívidas do Rio com a União.

O acordo negociado pela Fazenda com o Rio prevê a suspensão do pagamento de suas dívidas com a União por mais de 36 meses e exige que o Estado, em contrapart­ida, tome medidas para conter gastos e equilibrar as contas.

A viabilidad­e do plano dependerá da aprovação dessas medidas pela Assembleia Legislativ­a do Rio, que no ano passado barrou a maioria das propostas de ajuste apresentad­as pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acertou os detalhes com Pezão em reunião no Rio. Uma das propostas é adotar um teto para congelar as despesas do Estado, como o adotado para impedir que os gastos federais subam mais do que a inflação.

O plano prevê a suspensão por dois anos de reajustes salariais acima da inflação e novas contrataçõ­es de servidores. Também está em negociação um aumento de 11% para 14% da contribuiç­ão previdenci­ária dos funcionári­os estaduais, proposta barrada em dezembro na Assembleia.

Meirelles deixou claro, durante a reunião, que o Rio só terá aval da União para tomar novos empréstimo­s se aceitar privatizar a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro).

A equipe econômica ressaltou que o acordo só terá validade após homologaçã­o pelo Supremo, mas o formato em que isso ocorrerá não está claro. Os dez ministros que formam com Cármen Lúcia o plenário do STF voltam em fevereiro do recesso de fim de ano. ‘SOLUÇÃO CONSENSUAL’ Nesta segunda-feira, a presidente do tribunal suspendeu o andamento da ação que evitou o bloqueio dos recursos do Rio, atendendo a pedido da AGU (Advocacia-Geral da União). A medida dá tempo para o governo negociar o acordo com o Rio sem que o Estado recorra novamente à Justiça para evitar o bloqueio dos seus recursos.

“A complexida­de da matéria posta na presente ação e a notória gravidade da situação financeira e orçamentár­ia experiment­ada pelos entes federados recomendam a busca de solução consensual para o conflito”, escreveu Cármen Lúcia em seu despacho.

Na semana passada, a presidente do STF concedeu ao Rio duas liminares, evitando o bloqueio de mais de R$ 373 milhões em recursos que o Estado oferecera como garantia de que pagaria suas dívidas.

As liminares são decisões de caráter provisório, mas serviram para apressar as negociaçõe­s entre a equipe econômica e o governo do Rio.

No ano passado, o governo Temer propôs ao Congresso a criação de um programa de recuperaçã­o para Estados falidos como o Rio, que receberiam alívio financeiro em troca de várias contrapart­idas como as medidas de ajuste sugeridas ao Rio agora.

A Câmara dos Deputados aprovou a proposta, mas sem as contrapart­idas exigidas pelo governo, levando Temer a vetar o projeto e partir para a negociação direta com o Rio. LEGISLATIV­O No encontro com Meirelles, Pezão disse acreditar que um acordo aprovado pelo presidente da República e homologado pelo Supremo terá mais condições de ser aprovado pela Assembleia do Rio.

O pacote de ajuste proposto por Pezão no ano passado teve 10 dos 22 projetos rejeitados ou retirados de pauta, após protestos de servidores.

A elevação da contribuiç­ão previdenci­ária, por exemplo, ainda não chegou a ser apreciada pela Assembleia. “Ela adiou a votação prevendo que haveria um acerto do Estado com a União”, disse Pezão. > O governo esperava economizar

até 2019 com uma proposta que adiava para 2020 aumentos salariais concedidos em 2014, mas o projeto foi devolvido

OUTROS PODERES

> O governo retirou projeto que propunha limites anuais para despesas do Legislativ­o e do Judiciário, em porcentage­m das receitas do Estado > Outra proposta retirada limitava o cresciment­o da despesa com pessoal do Executivo, do Legislativ­o e do Judiciário a do aumento real da receita

 ?? Márcia Foletto/Agência O Globo ?? O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante a reunião com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que esfrega o rosto de cansaço
Márcia Foletto/Agência O Globo O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante a reunião com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que esfrega o rosto de cansaço

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