Folha de S.Paulo

Mercado espera corte dos juros em 0,50 ponto

- EULINA OLIVEIRA

Em uma estratégia para ganhar mais prazo para pagar suas dívidas, a Petrobras captou US$ 4 bilhões em emissão de papéis no mercado internacio­nal nesta segundafei­ra (9), o dobro do valor planejado pela companhia. Os recursos serão usados para recomprar papéis com vencimento até 2020. Investidor­es terão até 6 de fevereiro para revender títulos à estatal.

A Folha apurou que havia demanda para US$ 20 bilhões, sinalizand­o que a desconfian­ça dos investidor­es com as fraudes na Petrobras investigad­as pela Operação Lava Jato diminuiu diante das mudanças recentes no comando da companhia. A estatal sofre diversos processos na Justiça americana devido a perdas com corrupção.

A companhia pagará juros de 6,125% para US$ 2 bilhões em títulos que vencerão em cinco anos. Os outros US$ 2 bilhões, com vencimento em dez anos, saíram por 7,375%. O preço ficou abaixo do negociado na emissão anterior, em julho de 2016, quando os juros foram de cerca de 8%.

Essa é a terceira vez em cerca de um ano que a estatal emite novos papéis para alongar o prazo de pagamento de suas dívidas.

Em maio, a companhia ha- via feito uma primeira emissão, retomada em julho. No total, a Petrobras refinancio­u quase US$ 14 bilhões.

No mercado, a percepção é que há demanda por ativos brasileiro­s, e a Petrobras deve aproveitá-la para realizar outras operações semelhante­s nos próximos meses.

A ampliação do prazo de pagamento deve ajudar a companhia a manter dinheiro em caixa em um ambiente em que a queda na demanda por combustíve­is no mercado interno e os preços mais baixos do petróleo dificultam a geração de receitas.

Segundo a Moody’s, o risco de liquidez (não ter dinheiro em caixa) da Petrobras se reduz com a venda de US$ 13,6 bilhões em ativos e o prazo maior para honrar dívidas, mas ainda é elevado.

No final de setembro, dado mais recente, a empresa ainda precisaria pagar US$ 7,9 bilhões em 2017 e US$ 13,5 bilhões em 2018, de acordo com a Moody’s.

Em seu plano de negócios, anunciado em setembro do ano passado, a Petrobras anunciou intenção de vender US$ 19,5 bilhões em ativos entre 2017 e o próximo ano.

Os investimen­tos devem cair em um quatro até 2021, e a companhia quer reduzir sua dívida para 2,5 vezes o potencial de geração de caixa (medido pelo Ebitda). Hoje, esse indicador está em 4,07 vezes.

Uma das medidas para melhorar a geração de receitas da companhia foi a criação de uma política de reajuste de preço dos combustíve­is. O valor de venda de gasolina e diesel nas refinarias é revisto pelo menos uma vez por mês. Na semana passada, o custo do diesel subiu 6,1%. PREJUÍZO R$ 16,5 bilhões RECEITA R$ 70,4 bilhões DÍVIDA LÍQUIDA R$ 325,6 bilhões

Decisão do BC sai nesta quarta-feira

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve promover nesta quarta-feira (11) a terceira queda seguida da taxa básica de juros (Selic) e a primeira acima de 0,25 ponto percentual, dentro do atual ciclo de afrouxamen­to monetário. Atualmente, a taxa está em 13,75% ao ano.

Com a inflação em declínio e a demora na recuperaçã­o da economia, a maioria das projeções do mercado financeiro concentra-se no corte de 0,50 ponto percentual da Selic, para 13,25% ao ano.

Conforme levantamen­to da agência Bloomberg, de um total de 40 economista­s, 35 esperam uma redução dessa magnitude. Outros quatro projetam uma queda maior, de 0,75 ponto, e só um estima diminuição de 0,25 ponto.

Na pesquisa Focus, do BC, divulgada nesta segunda (9), economista­s do mercado mantiveram a expectativ­a de redução de 0,50 ponto. O mercado de juros futuros operou em baixa nesta segunda, também refletindo a possibilid­ade de corte de ao menos 0,50 ponto da taxa básica.

O Goldman Sachs prevê queda de 0,50 ponto, mas considera que há pelo menos 40% de chance de o Copom reduzir a Selic em 0,75 ponto. “Essa probabilid­ade pode aumentar se o IPCA de dezembro vier significat­ivamente abaixo das expectativ­as”, escreve o banco, em relatório.

Ainda segundo o Goldman, os dados fracos do mercado de trabalho e de atividade econômica e a pressão sobre o BC para intensific­ar o ritmo de cortes de juros podem levar à redução de 0,75 ponto. IPCA O índice de inflação oficial, o IPCA, de 2016 será conhecido na manhã desta quarta-feira, horas antes do anúncio do Copom. A mediana das estimativa­s coletadas pela Bloomberg é que o indicador calculado pelo IBGE tenha terminado o ano passado em 6,34%, abaixo da variação de 12 meses acumulada em novembro, de 6,99%.

Para o mês de dezembro, as projeções são que o IPCA tenha ficado em 0,34%, ante 0,18% no mês anterior.

Algumas instituiçõ­es financeira­s, como o Itaú Unibanco, passaram a prever um corte de 0,75 ponto da Selic depois que a produção industrial de novembro ficou abaixo do esperado. O indicador, divulgado na semana passada pelo IBGE, cresceu apenas 0,2% na comparação com outubro, ante estimativa­s de alta de 1,3%.

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