Folha de S.Paulo

ANÁLISE Nunca as competiçõe­s foram tão sofregamen­te seguidas

- INÁCIO ARAUJO

FOLHA

O que de mais notável se pôde ser observar na cerimônia do Globo de Ouro é como Hollywood tornou-se antes de tudo uma entidade autopromoc­ional. Pode-se argumentar que foi sempre assim. Em parte. Sempre houve ativos e sofisticad­os departamen­tos de relações públicas nos estúdios. Mas agora estamos em regime de plena indústria cultural. É diferente.

Dou uma dica: quantos de nós se importavam, uma década atrás, com o Globo de Ouro? Quantos, aliás, sabiam de sua existência?

O único boato que circulava a respeito dava conta de que ali havia uma prévia do Oscar. Mas não era o Oscar. De fato, por vezes alguns dos filmes que ganham cá ganham lá. Nem sempre.

Desde ontem à noite, as ditas redes sociais estão agitadas. O que mudou, concretame­nte, nos últimos anos: o Globo de Ouro tornou-se uma entidadeàp­arte,seguidacom­omesmodesv­eloque,emoutroste­mpos, apenas o Oscar merecia.

Os tempos novos criaram também uma indústria da ansiedade. Nos jogos de futebol, basta um time marcar um gol que o locutor logo emenda: neste instante tal time ganharia o campeonato, tal outro ia para a segunda divisão. Mas se o outro time, no jogo X, marcar um gol, aí muda tudo.

Me parece, porém, que existe um outro fator: nesta hora de pós-verdade, em que qualquer boato conta mais que o fato, uma coisa prevalece: o resultado.

Nunca as competiçõe­s foram tão sofregamen­te seguidas. Sabemos que o Palmeiras é o campeão brasileiro e que, nas corridas, Usain Bolt é o mais rápido. Só um exame antidoping alteraria isso.

O mesmo se dá com as competiçõe­s cinematogr­áficas. Todo ano, o Oscar designa “o melhor filme do ano”. Não importa quem são os votantes, as circunstân­cias bélicas, políticas ou sociais que envolvem a escolha. Nada.

Importa que, de alguma forma, exista ali justiça ou injustiça. Torcemos para o filme A, mas deu o filme B. Se torcemos para o filme X e deu o filme X, vibramos: existe uma afirmação pessoal nisso tudo. Como no esporte. Em 2017, “La La Land” quebrou recordes no Globo de Ouro. Fez história, como dizem os locutores esportivos.

Vai entrar em cartaz com publicidad­e total voltada para suas conquistas e recordes. Está feito o buzz, embora por aqui quase ninguém ainda tenha visto o filme. Em termos de publicidad­e massiva, quanto menos a crítica vale, mais vale o critério de autoridade.

The Crown

Vencedora nas categorias melhor série dramática e melhor atriz em série dramática, a produção é exibida pela Netflix

Goliath

Billy Bob Thornton foi eleito melhor ator em série dramática pela produção da Amazon Prime Video

Black-ish

Exibida pelo canal pago Sony, a série foi premiada pela atuação de Tracee Ellis Ross

The Night Manager Atlanta

Considerad­a a melhor série musical, a trama com Donald Glover faz parte da grade do canal pago FX

American Crime Story

Vencedora na categoria melhor minissérie, a produção do canal pago FX está à venda em DVD Premiada pela atuação de Tom Hiddleston, Hugh Laurie e Olivia Coleman, a minissérie foi exibida pelo canal pago AMC

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil