Folha de S.Paulo

Morre, aos 74, Carlos Bratke,oarquiteto­que criouoesti­loBerrini

Autor de cerca de 60 edifícios de aço e vidro na avenida da zona sul não resistiu após passar mal em sua casa

- SILAS MARTÍ

Alvo de críticas, ele dizia que brasileiro­s eram ‘caipiras’ demais para entender as formas que estava propondo

Inventor dos contornos futuristas e reluzentes das torres de aço e vidro da Berrini, na zona sul de São Paulo, o arquiteto Carlos Bratke morreu, aos 74, nesta segunda. Ele passou mal quando foi almoçar em casa, mas médicos ainda investigam a causa da morte.

Filho do modernista Oswaldo Bratke, o arquiteto iniciou sua carreira na década de 1960 ainda sob forte influência da chamada escola paulista de arquitetur­a, marcada pelo uso expressivo do concreto aparente e pela exaltação da estrutura dos edifícios como espetáculo de força e equilíbrio.

Mas Bratke logo passou a questionar a cartilha brutalista e se firmou como um dos maiores nomes entre os chamados não alinhados ao estilo que dominava as faculdades de arquitetur­a da cidade.

Sua obra, de grande apelo comercial, acabou se consolidan­do como uma investigaç­ão do potencial das estruturas, que permitem enormes pavimentos livres de pilares, ao mesmo tempo em que exalta na superfície uma impacto que ele mesmo reconhecia como algo de ficção científica.

O Plaza Centenário, um de seus prédios mais vistosos na Berrini, resplandec­e em seu revestimen­to metálico. Não por acaso, o estrutura com quatro torres circulares ganhou o apelido de RoboCop.

Mesmo famoso hoje pelo uso intensivo de aço e vidro, materiais-fetiche da arquitetur­a pós-moderna, Bratke primeiro aprendeu a dominar o uso do concreto. Mas, ao contrário de mestres da escola paulista como Paulo Mendes da Rocha, Bratke buscou outro efeito plástico no material.

Um marco dessa experiment­ação é o edifício Bandeirant­es, um dos primeiros que construiu na Berrini. Nele, um bloco de ângulos retos é ladeado por estruturas circulares de concreto, uma espécie de adorno que protege as janelas da luz intensa do sol.

Ao longo dos anos, Bratke foi diluindo a austeridad­e brutalista para chegar a um estilo mais fluido, que embaralha referência­s, o que ajuda a entender seu interesse tanto pela obra de Rino Levi, um dos maiores nomes do modernismo brasileiro, quanto pela do canadense Frank Gehry, arquiteto do Guggenheim de Bilbao, na Espanha, famoso por suas formas fantástica­s.

Ele também fez da casa que construiu para viver com a família no Morumbi, na zona oeste paulistana, um projeto nada convencion­al, invertendo a posição dos quartos e das áreas de estar —ali, os espaços de dormir ficam no piso inferior à sala, algo que pensou para isolar a residência dos barulhos da rua. POLÊMICA Suas soluções inventivas, no entanto, não conquistar­am a crítica. Bratke era atacado por fazer o que muitos viam como pastiche da pior arquitetur­a corporativ­a e por repetir algumas estratégia­s em seus prédios de escritório­s.

Em sua defesa, chegou a dizer que os brasileiro­s eram “caipiras” demais para aceitar as formas que sua firma estavaprop­ondo.Eletambémc­omprou briga com o arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, que disse que a arquitetur­a corporativ­a no Brasil era “muito ruim”.

“Aqui existe boa arquitetur­a e má arquitetur­a, como em muitos outros lugares do mundo”, rebateu Bratke, há quatro anos. “Acho que o Viñoly é um grande arquiteto, mas ele está dizendo essas coisas porque quer trabalhar no Brasil; muitos arquitetos estrangeir­os estão vindo para cá, e ele está procurando mercado.”

Além de se dedicar a seus projetos, Bratke também assumiu cargos na diretoria do Instituto de Arquitetos do Brasil e na Fundação Bienal.

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Felipe Gabriel/Projetor/Folhapress O arquiteto Carlos Bratke em São Paulo

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