Breves novelas expõem ambiguidade da América Latina
FOLHA
A história da América Latina é marcada por ambiguidades, com as conhecidas oscilações entre a vocação para redimir o velho mundo de seus erros originários e a experiência real de desastres humanitários e ambientais.
Essa característica transparece na literatura produzida no continente como uma urgência no entendimento de nosso destino, “antes que a definitiva noite se espalhe em Latinoamérica”, para citar a música “Soy Loco por Ti, America”, que dá nome ao novo romance de Javier Arancibia Contreras.
O livro é uma colagem de quatro breves e engenhosas novelas que se passam entre os anos 1970 e os dias atuais.
Na primeira, um professor argentino se torna obituarista de um um jornal de Buenos Aires, alcançando enorme sucesso, até ser escalado para cobrir a Guerra das Malvinas e escrever um livro sobre os combatentes mortos na disputa com a Grã-Bretanha.
A segunda e mais forte das quatro trata do grafiteiro Santiago Lazar, fugido do Chile no início da ditadura de Pinochet.
Seu “único erro foi ter tomado o gosto pela liberdade num país onde ela nunca havia existido de fato, sobretudo porque a liberdade pressupõe independência de pensamento”. Vinte anos depois ele reaparece em Londres, sob o codinome William (Will.I.Am) White, como um artista gráfico badalado de passado obscuro.
Na terceira história, seguimos para Brasília, onde o jornalista chapa-branca Sérgio Vilela é enviado para chefiar a sucursal de um grande jornal carioca no início da abertura do regime militar, nos anos 1980, e se desbunda com a cocaína boliviana e a ilusão do poder.
Terminamos o livro com a história, nos dias atuais, do jovem Marlon Müller, que “vivia num casarão cuidado por seis empregados, tinha um carro conversível na garagem, namorava uma menina amalucada muito gostosa e que, inclusive, tinha jantado com o presidente da República no mês passado”.
Ele articula uma organização secreta como Anonymous e WikiLeaks, expondo a vida privada de artistas de TV e jogadores de futebol na Cidade do México. ROBERTO TADDEI