Indicado em 11 categorias, filme ‘La La Land’ lidera lista do Bafta
Ao retratar a vida de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), o diretor Marcelo Gomes buscava não só mergulhar na figura do inconfidente mas também nas raízes das nossas questões sociais. “A gente reflete sobre o Brasil colonial e como essas fraturas sociais, decorrentes de um processo de colonização cruel e rude, provocam fissuras até hoje.”
Resultou em “Joaquim”, filme anunciado na terça (10) entre as produções que irão integrar a mostra competitiva do 67º Festival de Berlim, de 9 a 19 de fevereiro. É o primeiro brasileiro em três anos a chegar à competição —o último foi “Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz, em 2014.
“E é um festival aberto ao público, uma arena maravilhosa para vermos a reação da plateia. Um bom momento para refletirmos sobre o nosso passado”, diz o cineasta, que já fora a Berlim em 2014 com “O Homem das Multidões”, codirigido por Cao Guimarães e exibido na seção Panorama, mostra paralela do festival da qual participam, neste ano, os brasileiros “Vazante”, de Daniela Thomas, e “Pendular”, de Julia Murat.
A história de “Joaquim” começa há nove anos, quando Gomes (de “Cinema, Aspirinas e Urubus”) foi convidado por uma produtora espanhola para biografar Tiradentes.
A crise econômica na Eu- ropa cancelou o investimento espanhol, mas o cineasta seguiu com o projeto, orçado em cerca de R$ 2 milhões e que acabou contando com uma coprodução portuguesa.
Em sua pesquisa histórica, afeiçoou-se em especial pelo que a historiadora Laura de Mello e Souza registra no livro “Desclassificados do Ouro: a Pobreza Mineira no Século 18”. “Ela trata das relações sociais na época, que é o que me interessava. É um caldo cultural que depois vai ser a base da nossa sociedade.” GARIMPO Gomes criou uma ficção em torno da figura histórica. “Queria investigar como esse alferes da guarda real do Império Português se transforma em alguém que se rebela contra o governo. Como foi o processo de consciência política.”
O personagem-título coube ao paulista Júlio Machado, que entrou no projeto já em andamento —o papel seria de João Miguel, mas por conflitos de agenda o ator precisou cancelar a participação.
Com longa trajetória no teatro e produções recentes na televisão —foi o capataz Clemente na novela “Velho Chico”—, Machado faz aqui o que chama de “seu primeiro grande personagem no cinema”.
“Foi um processo de garimpo”, diz o ator sobre as audições de elenco. “Lembro que estava com o cabelo comprido na época, e achava que isso seria importante para o ‘physique du rôle’ do personagem. Queria cortar, mas fiquei segurando [até ser escolhido para o papel].”
Seu Joaquim, diz ele, evita “a abordagem heroicizada”. “Tentamos fazer um exercício de imaginação de como teria sido a vida cotidiana dele.”
Gomes ainda buscou reproduzir, no ambiente, o cotidiano de Tiradentes. Filmou seu longa na região de Diamantina (MG), segundo ele “muito dramática, como era o Brasil no século 18, com grandes obstáculos”. “As condições no passado eram difíceis, e a gente tentou construir um passado real.”
O elenco conta também com atores portugueses, intérpretes amadores da região e integrantes do Grupo Galpão, como Eduardo Moreira e Chico Pelúcio. “Esse caldo cultural de atores de origens diferentes parecia muito com o caldo social do Brasil no século 18”, afirma o cineasta.
Não há uma data certa, mas Gomes pretende lançar “Joaquim” no circuito em 21 de abril, dia de Tiradentes. (MLB) DE SÃO PAULO - Depois de levar sete prêmios no Globo de Ouro, no último domingo (8), o filme “La La Land - Cantando Estações” lidera outra premiação: está indicado a 11 categorias, entre elas a de melhor filme, atriz (Emma Stone), ator (Ryan Gosling) e diretor (Damien Chazelle), do 70º Bafta, considerado o Oscar britânico.
Na sequência, com nove indicações cada um, vêm “Animais Noturnos”, de Tom Ford e “A Chegada”, de Denis Villeneuve. Este concorre com “La La Land” pela estatueta de melhor filme, categoria que também inclui “Eu, Daniel Blake”, de Ken Loach, “Manchester By the Sea”, de Kenneth Lonergan, e “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, de Barry Jenkins.
A lista foi divulgada na manhã desta terça (10). A cerimônia está marcada para o dia 12 de fevereiro, no Royal Albert Hall, em Londres, e será apresentada por Stephen Fry —que assume o posto pela 12ª vez.