Folha de S.Paulo

Sobreviven­te vira líder comunitári­a

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DA ENVIADA A PETRÓPOLIS (RJ)

A chegada do verão assusta a zeladora Cristina Rosário, 46, moradora do Vale do Cuiabá, zona rural de Petrópolis, na região serrana do Rio.

Qualquer chuvinha lhe faz lembrar da noite de 11 de janeiro de 2016, uma terça-feira, quando a água do rio que passa em frente à sua casa, o rio Santo Antônio, subiu mais de cinco metros e a deixou ilhada no segundo andar, sem saber até quando a estrutura das paredes suportaria a força da correnteza.

“Fui recolhendo vizinhos. Via as outras casas desabando ao nosso redor e pensava: ‘Meu Deus, será que trouxe essas pessoas aqui para morrer junto comigo?’”

Só se deu conta do quanto a água havia subido quando o sol nasceu e viu corpos pendurados nos galhos das árvores. O vale, a região da cidade mais atingida pela chuva daquela noite, amanheceu preenchido por lama.

Três anos antes, Cristina Rosário, à época grávida de sete meses, já havia perdido o bebê após uma chuva que deixou ao menos nove mortos.

Depois de sobreviver à tragédia de 2011, decidiu agir. Virou coordenado­ra dos Núcleos Comunitári­os de Defesa Civil do Vale. Envia mensagens aos moradores e alerta a todos a sair de casa quando a água atinge certo nível em municípios vizinhos.

“O único jeito de evitar uma tragédia daquelas é a gente ter uma rede de boca a boca rápida quando a chuva apertar. A prefeitura instala sirenes, mas a sirene, na verdade, somos nós”, afirma.

“Tenho medo, mas não tenho para onde ir. Em Petrópolis, não tem para onde fugir —ou você sai da beira do rio e vai morar no morro ou sai do morro e desce para a beira do rio”, diz. (LF)

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Casa continua em área de risco no bairro Vale do Cuiabá

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