Uma academia de ginástica “não é suficiente para uma qualidade de vida decente”.
Quando Portugal estava no auge do sofrimento com a crise financeira mundial, Marina Pereira, 33, seguiu o exemplo de milhares de seus compatriotas e aceitou um emprego em Angola, que vivia o pico de um boom petroleiro.
Mas, agora, o colapso nos preços do petróleo devastou a economia do país africano e levou Pereira e muitos de seus compatriotas a tomar o caminho de volta à Europa. “No começo eu ganhava 4.200 (R$ 14 mil) por mês trabalhando em um spa. Tinha casa e comida, era um paraíso”, disse a osteopata.
Em 2012, ela se mudou para Luanda, a capital da antiga colônia portuguesa, rica em petróleo e diamantes. Mas, depois de um começo que parecia um sonho, a euforia começou a dar lugar à desilusão.
“Comecei a receber em kwanzas, a moeda local, e minha renda mensal caiu a
1.000. Câmbio só era possível no mercado negro.”
Seu retorno em 2015 a Portugal, que mal tinha saído de uma profunda recessão, àquela altura, foi uma experiência brutal. O salário de
650 (R$ 2.200) mensais que ela recebe para trabalhar em DUBAI O fim da sangrenta guerra civil angolana, depois de 27 anos, em 2002, se combinou à alta nos preços mundiais do petróleo para desencadear um rápido desenvolvimento, e Luanda era frequentemente comparada a Dubai.
O crescimento do PIB atingiu um pico superior a 20% em 2007, mas a queda no preço do petróleo, má governança e falta de investimento reduziram o crescimento para apenas 2% no ano passado.
O governo, que depende do petróleo para 70% de seu Orçamento, apertou o freio nos gastos, suspendendo milhares de projetos de construção, e impôs restrições cambiais.
“Diversas empresas portuguesas em Angola se tornaram incapazes de manter em dia os salários, porque surgiram problemas de repatriação de lucros”, diz Ricardo Pedro Gomes, da associação de construtoras de Portugal.
“Há atrasos de até um ano nos salários”, disse Albano Ribeiro, líder do sindicato dos trabalhadores da construção. PAULO MIGLIACCI