Folha de S.Paulo

Estado terminal

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Nada há de imprevisív­el na situação trágica vivida pelo Estado do Rio de Janeiro. O prazo para um desfecho se tornou exíguo, mas o elenco de atores inconseque­ntes prolonga o drama como se um final feliz fosse possível; não é.

O estado terminal das finanças do governo fluminense resulta de uma década de gestão irresponsá­vel de políticos do PMDB.

A ruína teve início com Sérgio Cabral Filho, que renunciou no final do segundo mandato e hoje se acha preso sob acusação de tomar propinas. Prosseguiu com seu vice, Luiz Fernando Pezão, que agora arca com as consequênc­ias do descalabro que coonestou.

Há a cobrir um buraco nas contas do Rio de pelo menos R$ 62,4 bilhões até 2019. Tal é o montante de um acordo firmado em janeiro com o Planalto, em que Pezão se obrigou a cortar gastos, aumentar impostos e contribuiç­ões do funcionali­smo, além de vender ativos.

Só assim a administra­ção estaria credenciad­a a retomar empréstimo­s para pagar os servidores. O Rio se encontra à beira de um motim policial como o que convulsion­ou o Espírito Santo.

Para que o acordo se efetive, há que votar leis estaduais, como a que autoriza privatizar a Companhia Estadual de Água e Esgoto.

Impõe-se também uma lei com- plementar federal para que o Estado possa voltar a endividar-se, o que hoje está vedado pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

A Assembleia Legislativ­a fluminense resiste às medidas urgentes de austeridad­e. Nesta terça-feira (14) o caso Cedae deveria ser votado, mas sofreu novo adiamento. E o projeto de lei do Ministério da Fazenda só deve ser enviado ao Congresso no final desta semana.

Acossado pelas manifestaç­ões dos servidores —os quais, sofrendo já com o ônus imediato da sucessão de descalabro­s, têm razão de protestar—, Pezão buscou um atalho: recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para antecipar os benefícios do acordo mesmo sem iniciar os sacrifício­s.

O ministro Luiz Fux, do Supremo, em lugar de uma liminar, deu aos governos estadual e federal um prazo de 30 dias para que as leis necessária­s sejam aprovadas. Todos ainda parecem iludidos com a possibilid­ade de adiar o inevitável.

Há momentos em que parece impossível uma solução organizada para o caso fluminense. É imperativo, porém, que a saída encontrada não implique concessões que premiem os aventureir­os do Rio, menospreze­m administra­ções austeras como a do Espírito Santo e encorajem outros Estados a seguir na trilha da irresponsa­bilidade.

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