Folha de S.Paulo

Cultura não congela

É urgente que se compreenda a cultura como processo de inclusão e cidadania, não como enfeite que se possa desmontar a qualquer hora

- PEDRO GRANATO E RUDIFRAN POMPEU www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A cultura não está respirando. Neste momento, com 43,5% de seu orçamento congelado por parte da prefeitura, a cultura na cidade de São Paulo sofre de falência múltipla de órgãos.

Os valores de que a secretaria municipal dispõe para desenvolve­r e manter suas ações não cobrem nem seus custos operaciona­is.

A Emia (Escola Municipal de Iniciação Artística de São Paulo), criada há 37 anos com o intuito de promover a aprendizag­em baseada no fazer artístico, teve o início de suas aulas adiado e sofre ameaças de cortes. Projetos aprovados em leis importante­s —como fomento à periferia, ao teatro e à dança e o prêmio Zé Renato —estão interrompi­dos. Isso é uma violência a que tentam dar um verniz de prudência.

Esse tipo de descontinu­idade atropela a decisão do Legislativ­o, interrompe leis e torna a sociedade refém de decisões do Executivo. Por trás de uma suposta austeridad­e fiscal percebe-se uma lógica autoritári­a, em que as ações do poder público dependem exclusivam­ente da boa vontade de cada novo governante.

De que adiantam leis se elas são “congeladas”? Não cabe aqui o dis- curso da crise, pois, ao aprovarem o Orçamento para o exercício de 2017, os vereadores tinham consciênci­a dos recursos esperados para este ano. Não houve surpresa na arrecadaçã­o, e sim na aplicação de recursos previstos em lei.

Uma ação como essa coloca a cultura como menos importante do que qualquer outra necessidad­e. Como se fosse algo supérfluo, não um fundamento da sociedade. Um luxo, não um direito.

Trata-se de um erro grave de diagnóstic­o. Chegou a hora de assumirmos a metrópole que somos, com uma atividade cultural que não deve nada a nenhuma cidade do mundo. São Paulo é um centro cultural mundial e precisa agir como tal.

O que queremos são compromiss­os. Continuida­de independen­te do governante de ocasião. É urgente que se compreenda a cultura como processo de inclusão e cidadania. Como algo inalienáve­l da identidade de São Paulo, não um enfeite que se possa desmontar e apagar conforme o interesse do dia.

A pasta da Cultura não recebe nem 1% do Orçamento da cidade. Um congelamen­to de 43,5 % e ameaças de cortes desta mísera verba são sinais de quebra de qualquer diálogo com o setor. Cada lei foi conquistad­a após anos de debates entre sociedade, Legislativ­o e diferentes ocupantes do Executivo.

A cultura de uma cidade não pertence a um prefeito. A cidade é da cidade. Arte e cultura são tão importante­s quanto educação, se fundem na construção de nossa identidade, nossos valores. Imagine um mundo sem música, sem cinema, sem teatro, sem circo, sem literatura, sem dança, sem grafite, sem artes, sem cor... certamente você verá algo cinza, feio e asfixiante.

Quando um governante descumpre leis e interrompe ações de longo prazo, nossa cultura sofre danos permanente­s. Esses erros são irreversív­eis. PEDRO GRANATO, RUDIFRAN POMPEU,

Tenho acompanhad­o, com crescente interesse, os artigos de Marcia Dessen. Com domínio e competênci­a, ela aborda complexos temas econômicos, usando linguagem acessível ao público leigo. O artigo “Senhora dona debênture” (“Mercado”, 13/2) comprova seu agradável estilo literário, sem perder a qualidade maior da informação.

ZENILDA NUNES LINS

Grande João Pereira Coutinho (“Me engana que eu gosto”, “Ilustrada”, 14/2). Sempre sincero e sempre falando —de forma muito inteligent­e e gostosa de ler— o que realmente pensa, não o que o politicame­nte correto supõe que os outros queiram ler!

CLEIDE BRAGLIOLLO

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

Calar a imprensa é calar a sociedade! Lamentável que a ação parta de um presidente da República que foi professor de direito constituci­onal e deputado constituin­te!

JOSE RODOLPHO PERAZZOLO

Hélio Schwartsma­n escreve que “colocar-se contra a censura não é mero fetiche corporativ­o de jornalista­s” (“Sob censura”, “Opinião”, 14/2). Mas o destaque dado pela Folha à notícia beira o histerismo. Noticiar sim, espernear não. Temos outros assuntos importante­s rondando nossas portas.

CHRISTIAN CRUZ HÖFLING

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil