Folha de S.Paulo

Equador chega às urnas com imprensa limitada por Correa

Multas a veículos e penas de prisão contra jornalista­s fazem mídia local ter cobertura burocrátic­a sobre pleito

- SYLVIA COLOMBO

Faltam poucos dias para as eleições no Equador, mas quem depender dos grandes jornais e emissoras para saber o que ocorre nos bastidores das campanhas ou achar uma análise econômica ou social de como chega o país a este pleito ficará na mão.

As manchetes se limitam a contar quantas inauguraçõ­es o presidente Rafael Correa realizou nos últimos dias, ou qual é a multa para quem não for votar no dia 19.

Ou, ainda, como estampou em manchete na segunda (13) o “El Universo” —outrora um jornal crítico ao governo: “A cem dias de deixar o cargo, Correa prepara transição.”

“É triste. Os grandes meios se renderam à autocensur­a, depois de anos levando processos, condenados a pagar multas e tendo de enfrentar o presidente nos tribunais. Os bons jornalista­s atuam em sites ou nas redes sociais, enquanto os veículos tradiciona­is só reportam o que não lhes causa problemas”, diz à Folha o jornalista Emilio Palacio, que pediu asilo político nos EUA em 2011 após ser condenado pela Justiça equatorian­a por um artigo que criticava a atuação de Correa na administra­ção de uma crise.

Então articulist­a do “El Universo”, Palacio foi condenado junto com os três proprietár­ios da publicação. Enquanto ele recebeu pena de três anos de prisão, da qual escapou fugindo para Miami, os executivos foram multados em US$ 40 milhões.

Correa também foi aos tribunais contra os jornalista­s Juan Carlos Calderón e Christian Zurita, condenados a pagar US$ 2 milhões por investigar irregulari­dades nos negócios da família de Correa.

Depois de vários processos como estes e de expropriaç­ões de canais de TV, Correa aprovou, em 2013, a Lei Orgânica de Comunicaçõ­es, que regula concessões e estabelece controle de conteúdo.

A legislação criou uma agência controlado­ra, a Supercom (Superinten­dência de Comunicaçã­o), que serve como tribunal para a imprensa.

Desde que a Supercom existe, foram sancionado­s administra­tiva ou economicam­ente 477 meios de comunicaçã­o ou jornalista­s.

A pressão foi tão grande que obrigou três veículos, incluindo o jornal “Hoy”, que chegou a ser o segundo maior do país, e a revista “Vanguarda”, uma das principais, a deixaram de circular.

Correa justifica a Lei de Comunicaçã­o como forma de democratiz­ar os meios, estabelece­ndo cotas para veículos comunitári­os e de organizaçõ­es sociais. O presidente tem um programa aos sábados, o “Enlace Ciudadano”, em que, por cerca de três horas, ele mesmo dá notícias sobre seu governo.

Nesta eleição, os candidatos opositores a Correa, Guillermo Lasso e Cynthia Viteri, dizem que esse estrangula­mento irá terminar, caso sejam eleitos. “Não acredito numa democracia sem imprensa livre”, disse Lasso à Folha.

Já o governista Lenín Moreno não fala muito sobre assunto, mas seu perfil moderado leva jornalista­s a acreditar que ele não priorizará o avanço contra os meios.

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Ecuador Review Presidente do Equador, Rafael Correa, rasga jornal que trazia reportagem contra governo

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