Folha de S.Paulo

Forças Armadas terão 9 mil homens para suprir falta de policiais no Rio

Reforço até pelo menos a semana que vem equivale a 20% do contingent­e da PM no Estado

- LUCAS VETTORAZZO LUIZA FRANCO NICOLA PAMPLONA

Ministro admite medida como prevenção por causa de protestos que tentam barrar saída em batalhões desde sexta

O governo federal decidiu enviar 9.000 homens das Forças Armadas ao Rio para reforçar a segurança na capital fluminense e cidades vizinhas pelo menos até a quarta (22) da próxima semana.

O reforço, que equivale a 20% do efetivo da PM no Estado, começou a ser enviado nesta terça-feira (14).

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que a ajuda se mostrou necessária para atuar em manifestaç­ões e suprir a sobrecarga da Polícia Militar —e admitiu a relação da medida com os protestos que tentam impedir a saída de tropas dos batalhões desde a última sexta (10).

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), havia negado que a vinda das Forças Armadas fosse para conter danos de um eventual motim da Polícia Militar.

Dizia que as Forças ficariam para ajudar na segurança no Carnaval. O período inicial estipulado para a permanênci­a das tropas, porém, expira antes do feriado —embora possa ser prorrogado.

A exemplo do que ocorreu no Espírito Santo, parentes de policiais são a linha de frente dos protestos no Rio.

A gestão Pezão afirma, no entanto, que 95% do efetivo previsto da PM está na rua.

Embora admita a relação do envio de tropas como medida preventiva em meio à mobilizaçã­o de policiais, Jungmann buscou diferencia­r a situação do Rio da do ES —que, em meio a uma onda de violência, recebeu a promessa de 3.100 homens das Forças Armadas e Nacional.

“Diferentem­ente do que se passou no Espírito Santo, não há descontrol­e. Entretanto há necessidad­e do emprego preventivo das Forças Armadas.”

O plano é que as Forças atuem na Alerj (Assembléia Legislativ­a do Rio), em conjunto com a PM, devido aos atos de servidores que se opõem a medidas propostas pelo governo para lidar com a crise financeira do Estado.

O Exército patrulhará a via expressa Transolímp­ica, parte da av. Brasil, a orla de Niterói e São Gonçalo, município vizinho. A Marinha patrulhará a capital, do Caju, no centro ao Leblon. “Estamos atuando para liberar contingent­e da PM”, disse Jungmann.

As Forças Armadas não informaram os custos envolvidos na mobilizaçã­o dos 9.000 homens. Na Olimpíada do Rio, 21 mil estiveram envolvidos.

Em uma medida para tentar conter a insatisfaç­ão de policiais, a Secretaria de Fazenda do Rio também anunciou os depósitos dos salários dos servidores da Segurança Pública com um reajuste de até 10,22% prometido em 2014.

Serão pagos também os vencimento­s dos servidores da Educação, num total de R$ 920 milhões em salários. As duas áreas têm sido priorizada­s no calendário de pagamentos do Estado do Rio.

O pagamento aos policiais não inclui valores atrasados, como 13º salário, bonificaçõ­es e horas extras, principal pauta de protestos da categoria.

No domingo (12), os atos aconteciam em 27 dos 39 batalhões da PM do Estado. A corporação parou, no entanto, de informar a quantidade de unidades com protesto.

Há indícios de que a mobilizaçã­o perdeu força desde domingo —ao menos quatro batalhões encerraram atos.

O comando da PM admitiu pela primeira vez que houve prejuízo na segurança no domingo (12), quando uma briga de torcidas organizada­s resultou na morte de um torcedor e deixou oito feridos.

A PM afirmou que homens da unidade que faz a escolta das organizada­s tiveram dificuldad­e de sair do quartel.

O governo do Espírito Santo publicou nesta terça (14) lista com 155 nomes de policiais indiciados pelo crime de revolta. Os citados responderã­o a Inquéritos Policiais Militares e processos administra­tivos.

O crime militar de revolta prevê de pena de 8 a 20 anos de prisão. Os procedimen­tos têm prazo de 30 dias para serem concluídos, inicialmen­te, e os indiciados podem ser absolvidos, sofrer sanções e até ser expulsos da corporação.

Estão na listagem dois tenentes-coronéis, um major, um capitão da reserva (Lucinio Castelo de Assumção, ex-deputado federal e candidato derrotado a vereador pelo PMB em Vitória), quatro primeiros-sargento, três terceiros-sargentos, 28 cabos e 116 soldados.

O secretário da Segurança Pública do ES, André Garcia, afirmou nesta terça que a força-tarefa que atua no Estado irá investigar se houve participaç­ão de policiais no incêndio de dois ônibus na Grande Vitória e no assalto ao Convento da Penha, na segunda (13).

Segundo Garcia, o movimento dos policiais está perdendo força e, por isso, “temos um pequeno grupo que quer radicaliza­r e está causando transtorno­s à ordem pública”.

Uma decisão da Justiça intimou dez familiares de PMs que acampam em frente a batalhões e ordenou a remoção de obstáculos que possam impedir a entrada e saída pelos portões dos quartéis. (LEONARDO HEITOR E FABRÍCIO LOBEL)

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Fabio Teixeira/Folhapress Homens das Forças Armadas fazem patrulhame­nto na orla da tradiciona­l praia de Copacabana, na zona sul do Rio

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