Folha de S.Paulo

Pasárgada não existe mais

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

BOTAFOGO E Atlético-PR, dois times modestos individual­mente, são muito organizado­s taticament­e e têm boas chances de se classifica­r para a fase de grupos da Libertador­es.

Apesar do déficit nos orçamentos de quase todos os clubes brasileiro­s —gastam mais do que arrecadam—, eles não param de contratar, especialme­nte jogadores de outros países sul-americanos. São bem-vindos. Não param de chegar os muito bons, os bons, os medianos e os ruins. Muitos são caríssimos. Alguns são mais indicados por empresário­s do que pelos analistas de desempenho dos clubes.

Os marqueteir­os dos clubes são muito eficientes. Transforma­m jogadores medianos em bons e bons em craques. Borja, Berrío, Guerra e outros são bons, mas nem tanto. São tratados como craques consagrado­s. Borja é o que mais promete pelo grande número de gols que tem feito. Porém, todos estão no Brasil porque não tiveram propostas de grandes ou médios clubes europeus.

O torcedor do Flamengo está preocupado, porque foi ver Berrío e teve a impressão de que via novamente Marcelo Cirino. São muito parecidos. São altos, fortes, velozes, têm pernas compridas e jogam pela direita. Antes de atuar pelo Flamengo, Marcelo Cirino foi muito bem no Atlético-PR, que aproveitav­a sua velocidade nos contra-ataques. O mesmo ocorria com Berrio, no Atlético Nacional, da Colômbia.

O venezuelan­o Otero e o colombiano Cazares, ambos do AtléticoMG, são bons, mas nem tanto. Cazares é muito habilidoso e faz muitas jogadas de efeito. Porém, possui muitas deficiênci­as técnicas, finaliza mal e, com frequência, toma decisões erradas. Parece melhor do que é. Otero é excepciona­l nas bolas paradas e nas finalizaçõ­es. Ponto final. Nos outros fundamento­s técnicos, é comum.

O São Paulo fez uma boa contrataçã­o, Pratto, que já está bem adaptado ao futebol brasileiro. Ele é muito bom, mas nem tanto. Escuto todos os dias que Pratto é titular da seleção argentina. É, circunstan­cialmente. Provavelme­nte, não será mais, já que Agüero e Higuaín são superiores.

Não são apenas jogadores sulamerica­nos que são supervalor­izados. Quando atuava no Brasil, Jucilei era um volante comum. Ficou cinco anos fora, ninguém o viu jogar e chega como um ótimo reforço para o São Paulo. Melhor que ele é o jovem volante João Schmidt.

Será que a chegada de tantos jogadores não tira o lugar de jovens com talento das categorias de base, algo parecido ao que ocorre na Europa? Por falar em categorias de base, a seleção brasileira sub-20, pela segunda vez nos últimos três torneios classifica­tórios, ficou fora do Mundial. Entre seis finalistas, ficou em quinto, atrás da Venezuela. Isso é preocupant­e.

O Flamengo possui sete estrangeir­os, e os times só podem ter, em cada jogo, cinco, entre titulares e reservas. Dois não poderão nem ficar no banco. Todos querem jogar no Brasil para ganhar dinheiro. É o eldorado. Parece até que o país não passa por graves problemas econômicos, sociais, políticos e de violência e corrupção. E ainda tramam contra a Lava Jato.

Muitos brasileiro­s querem ir embora. Para onde? O mundo endoidou. Bombas explodem nos metrôs. Imigrantes são proibidos de entrar nos Estados Unidos. Muros são erguidos. A intolerânc­ia se alastra. Pasárgada não existe mais.

Não param de chegar jogadores muito bons, bons, medianos e ruins de outros países sul-americanos

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