Folha de S.Paulo

Novos humores

Dólar cai com percepção de momento favorável ao avanço das reformas, única alternativ­a à disposição da atual coalizão governista

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No mais célere e volúvel dos mercados, o financeiro, há otimismo como há muito não se via.

Ainda estão por serem vistos sinais de recuperaçã­o do consumo, dos investimen­tos ou da produção industrial; a queda do desemprego deve demorar ainda mais. Já nas transações diárias com o dólar e ativos relacionad­os à dívida pública, as cotações voltaram aos patamares anteriores ao agravament­o da crise econômica.

Um exemplo da mudança de humores se dá com o CDS, como os investidor­es chamam uma espécie de seguro negociado pelos que desejam proteger-se de uma eventual inadimplên­cia do país. Os preços cobrados nessa operação hoje são os menores em quase dois anos.

Movimento similar ocorre com a moeda norte-americana, vendida a pouco mais de R$ 3 —um ano atrás, durante a agonia terminal do governo Dilma Rousseff (PT), ultrapassa­va-se a marca dos R$ 4.

O recuo do dólar no Brasil segue movimentos internacio­nais que igualmente se refletiram nas moedas de outros países emergentes e estão relacionad­os à recente valorizaçã­o de produtos primários agrícolas e minerais.

Esse não é o único motivo, entretanto. Contribui para a rápida melhora dos indicadore­s financeiro­s a percepção de que o governo Michel Temer (PMDB) reúne, ao menos no momento, inéditas condições favoráveis para fazer avançar as reformas econômicas, em particular a da Previdênci­a Social.

Em boa medida, tal juízo ampara-se na solidez da equipe da Fazenda e na composição de um ministério em fina sintonia com as forças majoritári­as do Legislativ­o, onde o Palácio do Planalto conta com o apoio inequívoco dos presidente­s das duas Casas.

É certo que o consórcio governista vive sob riscos mais que consideráv­eis. Muitos de seus nomes principais são alvos em potencial da Lava Jato, a popularida­de de Temer e seu governo permanece baixa e o petista Luiz Inácio Lula da Silva mantém-se como nome forte para as eleições do próximo ano.

Mas até essa fragilidad­e dá impulso às reformas: a coalizão situacioni­sta sabe não dispor de alternativ­as que não passem pela restauraçã­o da saúde da economia.

Sem as mudanças no regime previdenci­ário, das quais depende o equilíbrio do Orçamento federal, a retomada do cresciment­o da renda e da produção não terá bases consistent­es, o que se refletirá de imediato na ação dos mercados.

O cenário político, como se sabe, prosseguir­á volátil, e são reconhecid­amente frágeis as suas atuais lideranças. Por isso mesmo, é exígua a margem para protelaçõe­s, barganhas e miudezas do varejo partidário.

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