Folha de S.Paulo

À espera do apocalipse

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RIO DE JANEIRO - Consultei distraído o relógio outro dia e descobri, alarmado, que estamos a dois minutos e meio da meia-noite. Não o meu próprio relógio, que, há anos, só uso quando saio à rua de camisa social e calça comprida, mas o Relógio do Apocalipse — também chamado de Relógio do Fim do Mundo ou do Juízo Final. Trata-se de uma marcação simbólica do tempo, criada em 1947 pelo “Bulletin of the Atomic Scientists”, da Universida­de de Chicago, e atualizada, quando a situação exige, por um grupo de cientistas e intelectua­is, incluindo hoje 16 ganhadores do Prêmio Nobel.

O relógio mede a quantos minutos estamos da meia-noite, representa­ndo a destruição da humanidade por uma guerra nuclear. A atualizaçã­o se dá de acordo com o acesso de novos países à tecnologia nuclear, o grau de armamento desses países e os maus bofes ou irresponsa­bilidade de seus governante­s. O mais próximo que estivemos da meia-noite — dois minutos — foi em 1953, quando EUA e URSS, ou Eisenhower e Stalin, estiveram a ponto de mandar o dedo. E o mais distante — 17 minutos — foi em 1991, quando a queda do Muro de Berlim decretou o fim da Guerra Fria.

A última atualizaçã­o foi há três semanas, no dia 27 de janeiro. Com Donald Trump na Presidênci­a americana, o assanhamen­to da Coreia do Norte, o terrorismo internacio­nal, os drones, os ciberataqu­es e o aqueciment­o global, estamos a dois minutos e meio da hora final. É a segunda pior marca do relógio.

Só espero que, nesse curto espaço, tenhamos tempo, no Brasil, para chegar ao nosso próprio apocalipse: a também chamada Delação do Fim do Mundo — em que as revelações dos informante­s da Odebrecht porão em seu devido lugar, a cadeia, os patifes que ainda circulam por aqui.

Mas, pelo ritmo com que andam as coisas, periga o nosso apocalipse só acontecer depois. CLAUDIA COSTIN

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