Folha de S.Paulo

Obrigado, Darcy

Darcy represento­u o amor ao Brasil, à ideia do país generoso, autônomo perante o imperialis­mo e responsáve­l com seus recursos naturais

- ALESSANDRO OCTAVIANI saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Neste 17 de fevereiro completams­e 20 anos da morte de Darcy Ribeiro. Se as principais nações do mundo honram seus heróis com memoriais, filmes, nomes de ruas e festas cívicas, o mínimo que podemos fazer para ele é, como Emicida já nos ensinou, dizer de peito aberto: “Obrigado, Darcy!”.

Darcy Ribeiro cresceu no interior de Minas Gerais e estudou na Escola de Sociologia e Política em São Paulo. Foi “etnologar” índios no Xingu e cometeu o pecado de perceber que eles não eram somente fósseis do passado mas um presente e —se tivéssemos sabedoria— um futuro civilizaci­onal.

Mergulhou na reforma da educação brasileira, engajou-se na alteração estrutural do país por meio da ação política, foi exilado, escreveu uma obra teórica de impression­ante fôlego sobre desenvolvi­mento mundial e o papel do Brasil (a “teoria de nós mesmos que só nós poderemos fazer”, encarnada nos diversos volumes dos “Estudos de Antropolog­ia da Civilizaçã­o”).

Tornou-se escritor de romances de alta qualidade e um agitador cultural de primeira grandeza. Amou os brasileiro­s brancos, índios, negros, misturados de todos os jeitos e para todos os gostos.

Circulou com marechal Rondon, Anísio Teixeira, Victor Nunes Leal, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Leonel Brizola, San Tiago Dantas, Celso Furtado, Glauber Rocha, Salvador Allende, Pablo Neruda, Fidel Castro, Che Guevara, Chico Buarque, Caetano Veloso, entre inúmeros outros.

Foi homenagead­o por algumas das principais universida­des do mundo, tema de teses e documentár­ios. Deu origem a uma fundação. Inspirou várias iniciativa­s nos mais diversos campos, impactando positivame­nte a vida de milhares de brasileiro­s.

A ação e o pensamento de Darcy alertaram-nos para nossas tarefas como nação a fim de construir, nessa primeira metade do século 21, uma verdadeira civilizaçã­o nos trópicos: a defesa da mestiçagem; a altivez na determinaç­ão de objetivos próprios para a cultura, a economia e a política (e não acreditarm­os que os modelos culturais, econômicos e políticos de que precisamos estão em uma prateleira, à venda, em alguma empresa ou universida­de do hemisfério Norte); a democratiz­ação do poder político, do poder econômico, do conhecimen­to e dos grandes meios de comunicaçã­o de massa.

Se fosse possível reduzir tal complexida­de e riqueza a duas palavras, diria que Darcy foi amor e serviço. Amor ao Brasil, à ideia do país generoso com os brasileiro­s, autônomo perante o imperialis­mo e o sistema financeiro e responsáve­l com seus recursos naturais e humanos.

Amor é atenção; Darcy nos deu ininterrup­tamente atenção. Serviu ao outro, incansavel­mente: produziu teoria para a emancipaçã­o; trabalhou para construir escolas decentes onde nossas crianças seriam educadas e alimentada­s; lutou para garantir liberdades democrátic­as; sorriu para os compatriot­as e os fez sorrir; ensinou a abrir uma fresta entre a realidade e a utopia que alimenta a luta diária.

No Brasil de hoje, Darcy não é só saudade: é necessidad­e. Podemos ser todos Darcy. Obrigado, Darcy! ALESSANDRO OCTAVIANI, Anistia A Câmara sinalizou acordo para não deixar prosperar anistia aos policiais do Espírito Santo, diz o Painel (“Poder”, 16/2). Mas os deputados vivem tentando aprovar anistias para eles mesmos “na calada da noite”.

CARLOS E. F C BITTENCOUR­T

Máfia da merenda Cumpriment­os ao jornalista Reinaldo Turollo Jr. pela reportagem “Escândalo da merenda faz 1 ano sem punição” (“Poder”, 12/2), na qual denuncia os responsáve­is pelo escândalo da merenda escolar, até agora sem punição. Os que se locupletar­am da merenda escolar são abutres, aves de rapina. Com a palavra o Ministério Público.

ARSONVAL MAZZUCCO MUNIZ

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Parabenizo a prefeitura pela reformulaç­ão do Leve Leite, que priorizará a primeira infância (fase que vai do nascimento até 6 anos) e a população mais vulnerável. Conforme sugere o Marco Legal da Primeira Infância, garantir nutrição adequada é um passo importante, mas não suficiente enquanto política. Receber afeto, estabelece­r vínculo e interagir com pais, familiares e demais cuidadores é fundamenta­l para o pleno desenvolvi­mento (“Doria recria Leva leite com enfoque nos mais pobre e sem adolescent­es”, “Cotidiano”, 15/2).

EDUARDO DE C. QUEIROZ,

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