Folha de S.Paulo

Temer pediu que eu o ajude a salvar o Brasil, diz Velloso

Ex-ministro do STF foi convidado para Justiça, mas ainda não deu resposta

- CAMILA MATTOSO

Quando falou comigo, ele [Temer] disse isso, que queria minha ajuda para salvar o Brasil. Talvez ele tenha até se excedido um pouco. Mas é uma coisa muito importante “

Eu não conheço [Beltrame], mas tenho a melhor das impressões. Não vi nenhuma acusação séria contra ele. Alguém que comandou a parte de segurança de um Estado como o Rio de Janeiro durante dez anos, eu acho que tem condições de fazer qualquer coisa e já passou por todos os testes. Considero, sim, convidar ele, eventualme­nte, se eu aceitar. Mas isso não depende só de mim

Ele diz que, caso aceite, permanecer­á apenas 1 ano na função; para a secretaria de Segurança, cogita chamar Beltrame

O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Mário Velloso, 81, afirmou que foi convocado pelo presidente Michel Temer para “ajudar a salvar o Brasil”.

Ele disse à Folha, no entanto, que ainda não decidiu se aceitará o convite para assumir o Ministério da Justiça, no lugar de Alexandre de Moraes, indicado ao Supremo.

Clientes com contratos com cláusulas de exclusivid­ade com seu escritório de advocacia estão criando dificuldad­es e podem impedi-lo de aceitar o convite.

Velloso e Temer conversara­m na noite desta quinta (16) sobre o problema e podem ter uma conversa definitiva nesta sexta (17).

Velloso declarou à reportagem que, por ele, estaria “80% resolvido”, mas alegou que, além das questões do seu escritório, sofre resistênci­as dentro da família para ser ministro do governo.

Contou ainda que não estaria disposto a ficar até o fim do governo, no final de 2018. “Seria para ficar um ano apenas. E eu já até falei isso para o presidente. Não mais que um ano”, disse.

“Quando falou comigo, ele [Temer] disse isso, que queria minha ajuda para salvar o Brasil. Talvez ele tenha até se excedido um pouco. Mas é uma coisa muito importante”, afirmou.

“E, se aceitar, vou ter até de pagar para ser ministro, porque não vou poder aceitar mais um níquel”, ressaltou Velloso, em referência à sua atuação como advogado.

Segundo ele, os clientes de seu escritório de advocacia em Brasília estão sendo consultado­s sobre o assunto.

Se houver apelos para que permaneça fazendo a defesa de um ou outro, isso pesará na sua decisão sobre o convite de Temer, diz.

Caso aceite ir para o ministério, por exemplo, Velloso terá de abdicar de mais de 50 ações em que atua em tribunais. “Renunciare­i de todas, me afastarei da sociedade [no escritório], deixarei minhas cotas e vou embora”, disse.

O ex-ministro do STF reuniu-se com Temer na terçafeira no Planalto. O presidente já decidiu pelo nome dele e espera sua resposta. Caso seja positiva, a nomeação deve ocorrer a partir de quarta (22), após a sabatina de Alexandre de Moraes no Senado. LAVA JATO E BELTRAME patia ao nome de José Beltrame, cotado para assumir a Secretaria de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça.

“Alguém que comandou a parte de segurança de um Estado como o Rio de Janeiro durante dez anos, eu acho que tem condições de fazer qualquer coisa e já passou por todos os testes. Considero, sim, convidar ele, eventualme­nte, se eu aceitar. Mas não depende só de mim”, declarou.

Ele ainda elogiou Antonio Mariz de Oliveira, outro cotado para a mesma secretaria.

Segundo Velloso, as delações premiadas feitas por 77 executivos da Odebrecht não o preocupam no caso de virar ministro da Justiça.

“Foram apresentad­as para o Ministério Público. São eles que estão com a palavra agora. O Ministério da Justiça não tem nada a ver com isso. É o Ministério Público que vai decidir se vai pedir inquérito, se vai pedir arquivamen­to, se vai fazer denúncia.”

Sobre as citações do nome de Temer nas colaboraçõ­es, o ex-ministro se esquivou.

“Eu sou amigo do presidente. Ele me convida, nessas circunstân­cias, eu acredito nele e, se aceitar, estarei lá para ajudar o amigo”.

Questionad­o se havia risco de ser mencionado na Lava Jato, ele respondeu: “Acho que não. Ninguém teria algo para me delatar.”

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