Operação da polícia mira filho de Lobão
Ação é desdobramento de inquérito que apura pagamento de propina de 1% do valor das obras de Belo Monte
À época do suposto esquema, Lobão era ministro de Minas e Energia; ele hoje preside a CCJ do Senado
Uma operação deflagrada nesta quinta (16) pela Polícia Federal teve como alvo Márcio Lobão, filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA), e o ex-senador peemedebista Luiz Otávio de Oliveira Campos, do Pará.
Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, expedidos pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, no Rio, em Belém e em Brasília, nas casas dos investigados e em seus escritórios de trabalho.
A ação ocorre uma semana após Lobão ser eleito por colegas para presidir a Comissão de Constituição e Justiça, a principal do Senado e responsável por sabatinar indicados ao Supremo e à Procuradoria-Geral da República.
A eleição de Lobão é parte de uma ação do governo para colocar em cargos-chave aliados e congressistas investigados pela Lava Jato. Dois inquéritos investigam Lobão na operação.
O senador também declarou recentemente que o Senado tentará novamente aprovar a anistia ao caixa dois, o que pode evitar a punição de citados na Lava Jato.
Segundo a PF, a operação desta quinta, batizada de Leviatã, é consequência de um inquérito que apura pagamento de propina de 1% do valor das obras de Belo Monte, no Pará, a dois partidos políticos. O dinheiro teria sido pago por parte das empresas do consórcio construtor.
A linha de investigação tem como base a delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que relatou um esquema de propinas no projeto.
Em 2016, reportagem da Folha mostrou que, em delação premiada, executivos da Andrade Gutierrez revelaram que as construtoras responsáveis pela obra de Belo Monte pagaram propina de R$ 150 milhões (o 1% do valor dos contratos) para PT e PMDB. Cada partido ficaria com uma cota de R$ 75 milhões. Os recursos foram pagos, segundo os depoimentos, na forma de doações legais para campanhas de 2010, 2012 e 2014.
Márcio Lobão ainda é citado nas investigações como intermediário de propina ao pai no acordo de delação firmado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
À época do suposto esquema, Edison Lobão era ministro de Minas e Energia do governo Lula. Os repasses na subsidiária da Petrobras para o ex-ministro teriam sido encaminhados ao escritório de Márcio, no centro do Rio.
Os investigados na Operação Leviatã poderão responder pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O nome da operação é uma referência à obra “O Leviatã”, do filósofo Thomas Hobbes, na qual ele afirma que o “homem é o lobo do homem”, comparando o Estado a um ser humano artificial criado para sua defesa e proteção.
A PF encontrou cerca 1.200 quadros na casa de Márcio Lobão e os catalogou para que não sejam retirados durante as investigações.
Em junho do ano passado, o Supremo autorizou a abertura de um inquérito para apurar se integrantes da cúpula do PMDB no Senado receberam propina na construção de Belo Monte. Os investigados são os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Jader Barbalho (PMDB-PA).
Alvo da ação da PF, Luiz Otávio, aliado histórico de Jader, era assessor especial do Ministério dos Transportes até o começo de janeiro, quando foi exonerado. Em 2016, a então presidente Dilma Rousseff o indicou para a diretoria-geral da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).
A indicação atendeu a interesses de Helder Barbalho (PMDB-PA), ministro da Secretaria dos Portos na época, e de seu pai. Quando Michel Temer assumiu, porém, suspendeu as indicações da petista.
Luiz Otávio chegou a ser investigado em 2012 por suspeita de desvio de R$ 12 milhões da Agência Especial de Financiamento Industrial, mas o caso foi arquivado em 2013. (BELA MEGALE) Em %* Márcio Lobão, filho de Edison Lobão