Folha de S.Paulo

Ministros do STF discutem libertação de Eduardo Cunha

Apesar de terem negado liberdade na quarta, membros da corte avaliam que ex-deputado pode ser solto por STJ

- MARINA DIAS

Para integrante­s do tribunal, caso de Cunha pode servir para dar um freio em prisões decididas em Curitiba

Ministros do Supremo Tribunal Federal discutem, em caráter reservado, a possibilid­ade de soltar o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde outubro pela Lava Jato.

Segundo a Folha apurou, apesar de o plenário da corte ter negado na quarta (15) pedido da defesa para soltar Cunha, ministros avaliam que ele pode ser solto com a concessão de um habeas corpus pendente no Superior Tribunal de Justiça.

Isso porque, avaliam, a votação desta semana foi baseada em argumentos processuai­s e não na legalidade da prisão decretada pelo juiz Sergio Moro, de Curitiba.

No STF, as articulaçõ­es a favor de Cunha tomaram corpo ainda no ano passado, quando Teori Zavascki era o relator das investigaç­ões. Segundo pelo menos três ministros do Supremo, Teori se incomodou ao receber alerta de que havia movimentaç­ões na 2ª Turma do STF, responsáve­l por julgar os casos da Lava Jato, no sentido de relaxar a prisão do ex-deputado.

Em jantar com colegas em dezembro, Teori fez um desabafo e disse que fora alertado do risco de soltarem o peemedebis­ta. Diante disso havia decidido tirar do colegiado a reclamação protocolad­a pela defesa com pedido para soltar o ex-deputado, e enviála para o plenário.

Participan­tes do encontro relatam que Teori disse ter ouvido que outros ministros da 2ª Turma já estavam convencido­s de que, preso, Cunha optaria por delatar, o que poderia afetar ainda mais a estabilida­de do país.

Uma delação de Cunha preocupa governo e PMDB pelo teor das conversas já divulgadas pela Polícia Federal. Mensagens no celular de Cunha reforçam a tese de que ele tem informaçõe­s sobre negócios entre grandes empresário­s, parlamenta­res e governo.

Para ministros da corte, o caso de Cunha poderia servir para colocar um freio nas prisões preventiva­s. Na semana passada, Gilmar Mendes disse que o tribunal tinha “encontro marcado com as alongadas prisões que se determinam em Curitiba”.

A iniciativa de Teori ocorreu em 13 de dezembro, apenas 40 minutos antes do início da sessão da 2ª Turma que iria analisar o recurso de Eduardo Cunha.

À época, faziam parte da 2ª Turma do Supremo, além de Teori e Gilmar, os ministros Dias Toffoli, Celso de Mello e Ricardo Lewandowsk­i. RECURSO O recurso foi apreciado nesta quarta pelo plenário da corte. No julgamento, o novo relator da Lava Jato, ministro Edson Fachin, afirmou que o recurso utilizado pela defesa não era instrument­o próprio para revogar a prisão de Cunha, determinad­a por Moro.

Fachin negou também o pedido de habeas corpus da defesa justamente porque recurso do mesmo tipo ainda está pendente no STJ e, por- tanto, seria preciso aguardar que o outro tribunal julgasse o caso.

O habeas corpus no STJ teve liminar rejeitada pelo relator, ministro Felix Fischer, no ano passado, mas o recurso será analisado pela 5ª turma da corte. Não há previsão para a data do julgamento.

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Paulo Lisboa -7.fev.2017/Brazil Photo Press/Agência O Globo O ex-presidente da Câmara e ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba

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