Folha de S.Paulo

Na Justiça, ex-deputado questiona Temer sobre ‘vantagem indevida’

Em caso que tramita no DF, Cunha volta a fazer perguntas que podem constrange­r presidente

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Temer e Moreira dizem que ‘não há o que responder’ porque conversas e reuniões citadas ‘não existiram’

Em uma série de perguntas enviadas à Justiça Federal em Brasília, o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDBRJ) questiona o presidente Michel Temer se ele tem ciência de “vantagem indevida” oferecida ao ministro Moreira Franco.

Preso no Paraná por ordem do juiz Sergio Moro, Cunha arrolou Temer como testemunha no caso em que é investigad­o pelo suposto envolvimen­to num esquema de desvios do Fundo de Investimen­to do FGTS (FI-FGTS).

Ao todo ele elaborou 19 questões. Em uma delas, indaga o presidente: “Tem conhecimen­to de oferecimen­to de alguma vantagem indevida, seja a Érica ou a Moreira Franco, seja posteriorm­ente, para liberação de financiame­nto do FI/FGTS?”.

O teor das perguntas foi revelado pelo site da revista “Época” nesta quinta (16). A Folha também teve acesso às informaçõe­s.

Cunha, que é declaradam­ente adversário de Moreira, não dá mais detalhes de quem seria Érica.

Ele ainda questiona se Temer indicou seu atual ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a para a vice-presidênci­a da Caixa Econômica Federal —Moreira ocupou o cargo de 2007 a 2010, no governo Lula.

Em outra pergunta, o expresiden­te da Câmara quer saber se Temer fez alguma reunião com Moreira e André de Souza, ex-conselheir­o do fundo, para tratar de pedidos para financiame­nto do FI-FGTS.

Além disso, também pergunta se o presidente participou de reuniões com o empreiteir­o Léo Pinheiro, da OAS, e com Benedicto Júnior, da Odebrecht, para tratar de doações de campanha.

Temer ainda é perguntado se sabe quem foi o responsáve­l pela nomeação de Joaquim Lima para vice-presidente da Caixa desde 2011.

Procuradas pela Folha, as assessoria­s de Temer e Moreira respondera­m: “Não há o que responder sobre reuniões que nunca ocorreram e conversas que jamais existiram”. ODEBRECHT Não é a primeira vez que Cunha formula perguntas a Temer com possíveis informaçõe­s que podem compromete­r o presidente.

No ano passado, ele preparou 41 perguntas na Justiça Federal em Curitiba, mas 21 foram indeferida­s por Sergio Moro, que conduz a Lava Jato na primeira instância. Uma delas tratava de uma reunião Temer em 2010 com Márcio Faria, ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industria.

Em sua delação, Faria disse que Temer participou de uma reunião em 2010 para tratar de doações à campanha eleitoral do PMDB daquele ano em troca de facilitar a atuação da empreiteir­a em projetos da Petrobras. O presidente diz que a reunião pode ter ocorrido, mas nega a versão apresentad­a pelo delator.

Na semana passada, Moro criticou em despacho o teor das perguntas encaminhad­as pelo ex-deputado naquela ocasião.

Para o juiz, houve uma “reprovável de tentativa de intimidaçã­o da Presidênci­a da República”, que demonstra que o ex-presidente da Câmara “prossegue com o mesmo modus operandi de extorsão, ameaça e intimidaçõ­es”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), manifestou nesta quinta (16) várias dúvidas sobre o que fazer com o pacote de medidas anticorrup­ção do Ministério Público, que foi devolvido à Casa pelo Senado. “Eu não sei como proceder”.

Maia indicou que deve esperar uma decisão definitiva do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre o tema.

Foi do STF que saiu uma decisão liminar do ministro Luiz Fux determinan­do nova votação do pacote sob o argumento, entre outros, de que o projeto de iniciativa popular foi alterado pelos parlamenta­res e que ele não poderia ter sua autoria encampada por deputados, como ocorreu.

Deputados afirmam que a decisão do ministro é descabida, já que, estaria vedando a Câmara de alterar projetos sob sua análise.

O projeto das chamadas Dez Medidas Contra a Corrupção, originalme­nte gestado por procurador­es à frente da Lava Jato, colheu mais de 2 milhões de assinatura­s.

A proposta foi votada pelos deputados na madrugada de 30 de novembro, tendo sido desfigurad­a.

Foram incluídas, entre outros pontos, o endurecime­nto de regras de punição a magistrado­s e procurador­es que cometerem crimes.

(RANIER BRAGON E DANIEL CARVALHO)

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Andressa Anholete - 3.fev.2017/AFP Temer e Moreira Franco, alvos das perguntas de Cunha

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