Folha de S.Paulo

Fim do sigilo de delação deve ser parcial

Depoimento­s de ex-executivos da Odebrecht sobre casos de corrupção no exterior devem permanecer em segredo

- BELA MEGALE LETÍCIA CASADO

Procurador-geral se reuniu nesta quinta com chefes do Ministério Público de outros 10 países

A retirada do sigilo das delações premiadas dos 77 executivos da Odebrecht não deve incluir casos de corrupção revelados no exterior.

Apesar da divulgação de informaçõe­s feitas pelo Doj (Departamen­to de Justiça americano) em dezembro, após a assinatura do acordo de leniência com procurador­es brasileiro­s, americanos e suíços, os depoimento­s dos delatores que trazem dados de fora do Brasil continuará em segredo, segundo pessoas ligadas a investigaç­ão ouvidas pela Folha.

Nesta quinta (16), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reuniu-se em Brasília com chefes do Ministério Público de outros dez países que conduzem investigaç­ões relacionad­as à Odebrecht. O objetivo do encontro, que terá segunda fase nesta sexta (17), foi traçar estratégia­s relacionad­as ao compartilh­amento das provas e delações premiadas do grupo.

Participar­am da reunião representa­ntes de Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Panamá, Peru, Portugal, República Dominicana e Venezuela.

Além de Janot, reuniram-se com os colegas estrangeir­os os procurador­es Vladimir Aras, secretário de cooperação internacio­nal da PGR (Procurador­ia-geral da República), Eduardo Pelella, chefe de gabinete de Janot; Sergio Bruno, membro do grupo de trabalho da PGR na Lava Jato; e Orlando Martello, da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. EM ATIVIDADE O desejo da Odebrecht é que a Procurador­ia e a forçataref­a ajudem a companhia a garantir sua atividade nos países em que colabora, para que possa assegurar as receitas necessária­s ao cumpriment­o dos compromiss­os financeiro­s assumidos nos diversos acordos de leniência.

A empresa vem enfrentand­o resistênci­as dos governos de muitos países. No Peru, além do presidente Pedro Pablo Kuczynski dizer que a empresa teria que deixar o país, foi expedido nesta semana um decreto de urgência que lista várias sanções a empresas que colaboram com investigaç­ões, como não poder vender ativos. A Odebrecht espera que essas medidas sejam flexibiliz­adas.

Quando assinou a leniência, a empresa negociou um prazo de seis meses de sigilo sobre fatos no exterior para poder fechar acordos e vender ativos nos países onde atua. A divulgação de informaçõe­s pelos americanos, no entanto, atrapalhou o grupo, que passou a sofrer sanções da justiça de vários países.

Hoje a Odebrecht negocia acordos com Peru, Venezuela, Panamá, Equador, Colômbia e República Dominicana.

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